A Cartuxa é apreciada porque o
seu maior objectivo é que não se fale dela. Não faz campanhas vocacionais, nem
cultiva acções promocionais. É, aliás, a muito custo que abre as suas portas a
visitantes. Em Portugal, quando o jogador Eusébio veio para o Benfica, veio
também um jogador para o Sporting vindo da então colónia, Moçambique. Já
ninguém se lembra dele. Nos idos anos 70 foi comentado na imprensa o facto de
ter entrado como noviço na Cartuxa Scala Coeli (escada do céu) em Évora,
Portugal. Ainda é vivo, e é um Irmão na cartuxa italiana da Serra de São Bruno,
na Calábria. Silenciosamente, na solidão do mosteiro, faz o seu caminho da
"escada do céu"! O seu caminho de santidade!
Na Cartuxa, importante É SER
santo e não que se seja chamado santo. Tudo está centrado no essencial, em
Deus. Tudo se apaga para que Ele brilhe. Tudo se silencia para que Ele fale. Não
se fazem ensaios de cânticos. Quem vem de novo integra-se na oração com os
outros. Os cartuxos são inflexíveis em muitos aspectos. No despojamento, por
exemplo. Não aceitam dignidades, distinções ou condecorações por parte da
Igreja. Um dos seus lemas é «non sanctos patefacere sed multos sanctos facere»,
que pode ser traduzido assim: «Fazer santos, não fazer propaganda deles». Não
tomam, por isso, nunca a iniciativa para conseguir a canonização dos seus
membros. Nem sequer possuem um catálogo dos seus santos. Quando morre alguém
com uma vida excepcionalmente santa, ninguém lhe escreve a biografia.
Habitualmente, dentro da Ordem, sobra apenas um comentário: «Laudabiliter
Vixit». Os princípios por que se norteia o monge são a quietude, a solidão, o
silêncio e a procura do Divino. A Cartuxa não quer a fama. Se ela existe, são
outros que a propagam. Quando um cartuxo passa por outro não diz nada. Ou
talvez diga sem dizer. O silêncio é capaz de captar o essencial. E o essencial
vem do fundo. Se houver atenção, somos capazes de lá chegar. Certas palavras,
muitas palavras só atrapalham.
por Victor Henriques
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