Cantos Gregorianos - Salmos

sábado, 7 de junho de 2014

A CELA DO MONGE CARTUXO: O SEU UNIVERSO.


Refeição, sono, trabalho, leitura, oração são o quadro habitual do monge cartuxo. Oração solitária, trabalho solitário…
Mas as horas não parecem intermináveis, os dias monótonos?
Sê-lo-iam se o monge estivesse só consigo mesmo.
Ele não está só.
Ele ama.
Ama um Deus escondido, é verdade, mas cuja presença confiante o preenche de alegria.
Trabalho, refeição ou repouso, todas estas realidades que fazem a vida dos homens, a cartuxa tem-nas em tão grande estima que ela faz participar nisso o próprio Deus.
É com Ele que o monge as vive, com Ele só.
Com Ele, no silêncio da sua cela.
Com Ele, no silêncio do seu coração.
O silêncio de Maria em Nazaré… Ninguém poderá sondá-lo.
É fonte inesgotável de luz e de força para o monje contemplativo.
Ajuda-o a encontrar Deus escondido no dia-a-dia.
No quotidiano?
Ao longo dos dias, apenas nada mais do que: a lenha para partir, um livro a abrir, uma refeição a tomar.
Deus está lá.
Como no atlelier de Nazaré, nada mais do que as madeiras e os instrumentos de trabalho.
Deus está lá.
Deus feito homem aplainava com toda a força dos seus braços. Toda a sua atenção era dada à tábua, à plaina… e o cliente ficava contente, e seu pai José, e seu Pai do céu.
Ainda que Deus pareça ausente e o peso do dia fatiga por si mesmo, a lenha está lá, à espera de ser partida, o livro está lá, à espera de ser aberto, a refeição está lá, à espera de serem tomada.
O monge, na simplicidade põe toda a sua atenção no trabalho, no livro, na refeição.
Deus dir-lhe-á que assim faz a sua alegria?
Ele lho diz, mas num tal silêncio, que frequentemente o monge não pode ouvi-Lo.
Ele sabe-o pela fé, como Maria.
E no entanto…
O universo está presente na cela de um cartuxo.
Sem que a televisão seja necessária, o silêncio da sua cela capta todos os apelos do mundo.
O silêncio do seu coração está à escuta de Cristo, de Cristo no seu Evangelho, mas também de Cristo em todos os seus irmãos.
Quando Jesus estava em oração no deserto ou sobre a montanha, entregava-se totalmente ao amor de seu Pai, no Espírito, totalmente entregue ao amor de todos os homens.
O monje cartuxo continua, atualiza a oração de Jesus no deserto.
Nele, na solidão da cela, o monge cartuxo sofre todos os sofrimentos.
Nele, no silêncio da cela, o monge cartuxo compromete-se com todos os combates pela justiça.
Nele, na oração na cela, o monge cartuxo reanima e faz brotar as sementes de ressurreição depositadas no universo.
Na sua cela, o monge cartuxo encontra-se com o sofrimento e alegria de Cristo, do Cristo total, súplica e louvor.
Aqui, na solidão, silêncio e simplicidade da sua cela, o monge cartuxo encontra o seu céu, e tal como uma vela a arder, é o local onde consome a sua vida terrena em permanente louvor ao Deus Criador.

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