A Vida Monástica define-se pela
escolha de um modo de vida que é ao mesmo tempo marginal e implicitamente
crítico em relação à sociedade de consumo. Não é uma fuga, mas um despojar-se
de si mesmo para tomar a cruz e seguir o Cristo. A comunidade, “Escola do
serviço do Senhor”, reúne-se em torno de um pai, o Abade, sinal de Deus, que é
Pai. Na vida comunitária, o monge aprende a arte de perdoar e amar e de
permitir que sua personalidade gradualmente se complete com as riquezas dos
outros. Este processo de crescimento alimenta-se no diálogo constante, pessoal
e comunitário, com Deus , na oração – verdadeira respiração vital da presença
do Espírito Santo de Deus. E à oração une-se, naturalmente, o trabalho manual
ou intelectual, realizado por todos em espírito de oferenda e como serviço aos
homens.
Sendo alguém que busca a Deus, o
monge se dispõe a um contínuo e entusiasmado processo de conversão no dia a dia
de sua vida comunitária. Ele não foge do mundo, nem o odeia, mas dele se
afasta. Renuncia a si mesmo e aos bens que poderia obter para si no mundo, para
seguir a Cristo no deserto, lugar de sofrimentos e tentações, mas também de
autenticidade e encontro. Assim, colocando-se a certa distância da sociedade,
livre de suas convenções e imperativos, o monge entrega-se totalmente ao
Cristo. Assume uma caminhada em busca da sabedoria de uma tradição espiritual,
que lhe é transmitida por um mestre e uma comunidade. Toda esta caminhada,
conduz, pela graça, a uma transformação interior e a um aprofundamento da
consciência e da percepção, chegando-se a uma experiência no mais profundo do
ser.
A vida do monge é toda alicerçada
na fé, por meio da qual ele experimenta constantemente a Morte e a Ressurreição
em Cristo, com tudo o que isso implica: despojamento, humildade, paz, serviço,
alegria, liberdade. Dentro do Mosteiro, o monge permanece aberto às
necessidades dos homens e ao acolhimento. É livre para encontrar e amar a
todos. E quer ser, segundo a vontade de Deus, um instrumento de seu Reino.
A Nossa função no Corpo Místico
de Cristo – A Igreja
O monge faz sua e participa da
missão de Cristo e da Igreja mediante sua doação pessoal a Deus e fidelidade à
vida monástica. Seu apostolado está em seu coração orante e purificado, no qual
se encontram as alegrias e tristezas de toda a família humana. O mosteiro é
sinal silencioso da presença transcendente de Deus entre os homens. É uma
profecia da comunhão com Deus a qual Cristo nos convida. “O Reino Deus está no
meio de vós” (Lc 17,21). Com sua oração, sustenta, misteriosamente, a missão de
toda a Igreja, permanecendo diante do Senhor dia e noite. Usando as célebres e
sábias palavras de Paulo VI: “Os mosteiros são como que “os pulmões da Igreja”.
Não realizamos obras de
apostolado fora dos muros do mosteiro. No entanto, nossas portas estão sempre
abertas para o povo. Aqueles que vêm ao mosteiro são convidados a compartilhar
conosco do clima de solidão e silêncio, no qual floresce a lembrança de Deus e
a oração pura e contínua. Pela hospitalidade, o mosteiro compartilha o fruto de
sua contemplação e trabalho. É uma hospitalidade aberta a todos, sem distinção.
“Todos os hóspedes que chegarem ao mosteiro sejam recebidos como o Cristo, pois
Ele próprio irá dizer: ‘Fui hóspede e me recebestes’” (rb.53,1).
“Os mosteiros foram e continuam a
ser, no coração da Igreja e do mundo, um sinal eloquente de comunhão, lugares
para acolher todas as pessoas que estão buscando Deus e as realidades espirituais,
escolas de fé e verdadeiros centros de estudos, de diálogo e de cultura para a
edificação da vida eclesial e da cidade terrena, à espera da cidade celeste.
(…) O monaquismo ocidental, em sua forma atual, inspirado por São Bento,
recolhe a herança de tantos homens e mulheres que, renunciando à vida levada no
mundo, procuraram a Deus e a ele se dedicaram, ‘sem nada antepor ao amor de
Cristo’ (rb.4,21)” (Vita Consecrata, 6). Esta maneira de viver é, para os
hóspedes, um sinal profético e escatológico capaz de tocar seus corações e
provocar um questionamento positivo, a ponto de gerar uma mudança de vida. A
vida monástica é para os homens de hoje uma ‘água viva’ do Cristo, a única que
poderá saciar a sede dos homens.
Num mundo no qual o “falar” se tornou
algo muito cultivado e o “ouvir”, negligenciado, o mosteiro assume um
importante papel no acolhimento das pessoas, que desejam partilhar suas
dificuldades, anseios, alegrias e tristezas. Nós nos dispomos a recebê-las para
o aconselhamento espiritual, atendimento de confissões ou, simplesmente, para
ouvir aquele que precisa falar.
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