Cantos Gregorianos - Salmos

sábado, 31 de maio de 2014

Vocação cartusiana - Vocação Eclesial

Retirar-se para o deserto para passar ali a inteira existência é uma decisão que só pode tomar-se quando no coração arde a íntima certeza, mais ou menos bem formulada, de que no seio da solidão se esconde um AMOR incomparável que não pode ser igualado por nenhum outro amor.
A solidão cartusiana não pode corresponder a uma fuga ou confundir-se com esta, senão que é a resposta a esse Amor, tão grande, que tende a fazer-se absorvente até ocupar a inteira existência.
A vocação cartusiana não é "um circuito fechado com Deus". Ao chamar-nos ao deserto Deus pensava em sua Igreja e em todos os homens de boa vontade, e a nossa resposta a damos enquanto membros do Corpo de Cristo e como representantes da inteira família humana. Desejamos ser o coração adorador da Igreja e o coração amante da humanidade. Por isso, dia e noite, desde nossa solidão, elevamos ao céu o louvor a Deus e em nome de todos apresentamos a Deus o grito de nossos irmãos os homens.
Abraçar a vida solitária na Cartuxa não supõe separar-se da família humana, senão que, separadas de todos, permanecemos unidas a todos, e em nome de todos estamos em presença do Deus vivo. Em nosso silêncio e solidão arrastamos a todos os que procuram a Deus e a todos os que Deus procura: nada escapa à influência da oração... No Corpo místico de Cristo cumprimos a missão de artérias que, silenciosas e escondidas, transmitem incessantemente o sangue vivificante aos demais membros.
Ainda que não entre diretamente em nossa vocação ser testemunhas ante o mundo, nossa mesma existência é, em certo sentido, um verdadeiro depoimento. Ao orientar-nos para aquele que É, somos em nossa sociedade como testemunhas de Deus, de sua existência, de sua presença no meio dos homens. Nossa vida mesma tenta expressar que Deus pode conquistar completamente um coração humano e liberá-lo dos condicionamentos da sociedade de consumo, e assim somos, em certo modo, sinais da existência dos bens eternos.

Não estará fora de lugar assinalar que a existência de uma monja cartuxa é uma experiência de alegria divina. Não necessariamente uma alegria que se faz exterior, senão a que brota espontaneamente ante a certeza de saber que o Amor de Deus está realmente presente em nossa vida, alegria ante a certeza de saber que a nossa é uma existência bem empregada, pois une num mesmo abraço a Deus e a todos os irmãos.

Ideal e espiritualidade cartusiana

Falar da espiritualidade e do ideal da Cartuxa é dirigir singelamente um olhar agradecido para a rocha de que fomos talhados, para nosso pai São Bruno. Este nome evoca, para nós, suas filhas, aquele homem de coração profundo que se deixou seduzir pela Absoluta Bondade de Deus e, renunciando a um brilhante porvir, retirou-se ao deserto de Chartreuse. Ali, permanecendo à escuta do Espírito, concedeu ao Amor o direito de ser o tudo de sua vida e esse Amor, extravasando do coração de Bruno e impregnando os corações dos irmãos que com ele viviam no deserto, criou entre eles um vínculo indestrutível de caridade que nos transmitiram através dos séculos.
"Amor a Deus no deserto" e "amor às irmãs que compartilham nosso deserto" são os dois pólos fundamentais da vocação cartusiana. Nossa vocação não costuma ser muito conhecida no que tem de mais peculiar, e se é com razão que nos consideram “monjas contemplativas", pois o somos, é muito importante adicionar algo essencial de nossa vocação: somos "uma comunhão fraterna de solitárias".

Procurar a união com Deus no silêncio e na solidão é nosso principal empenho e o ideal de nossa vocação. Por isto, a solidão impregna nossa existência interior e exterior. Nossos mosteiros se constroem, deliberadamente, em lugares apartados de toda população. As celas se encontram acondicionadas como ermidas, oferecendo assim a cada monja a possibilidade de uma autêntica vida solitária. Uma Cartuxa reproduz, hoje em dia, o que foram no Egito as "Cavernas" no princípio do monacato cristão.

Cartuxos (um oásis no meio do deserto) VI

Há algum tempo atrás numa superfície comercial aqui na ilha, cruzei-me com um irmão romeiro, que me apelidou de irmão cartuxo. Confesso que pequei um pouco, por ter levado aquela observação como um elogio, tendo em conta o sentimento que nutro por essa ordem religiosa. Na verdade e parafraseando São João Batista , se ele não se sentia digno de Lhe desatar a correia das sandálias 1, que direi eu sobre eles, perante os quais, mais do ser um eterno pecador, falta-me a simplicidade e a humildade que eles possuem, entre outras atitudes essências e fundamentais como Cristão.  Depois de outras palavras trocadas com o irmão romeiro, este terminou o seu raciocínio dizendo que “as ordens contemplativas são 
“ o  p u l m ã o , a s  r a í z e s  e  a s  f u n d a ç õ e s  d a  I g r e j a ". Um raciocínio certo e verdadeiro. Depois de ter utilizado as primícias descritas no Scala Claustralium 2, isto é, depois da leitura cuidada, a meditação possível sobre estas palavras, oração ao Pai para que me iluminasse e alguma contemplação , dentro dos meus parcos conhecimentos, deparei-me com imagens profundas e ricas (dentro do espírito e vivência das ordens contemplativas), as quais passo a explicar: - Qualquer uma das três palavras refere-se a existências não visíveis aos olhos dos comuns mortais. Todas estas existências encontram-se no interior de algo, seja no corpo humano, debaixo da terra ou por baixo das paredes que sentimos, tocamos ou vemos - Depois da imagem acima descrita, deparei-me com mais uma. Apesar de não serem visíveis, todas elas são o fundamental para a existência do que suportam. O ser humano não vive sem os pulmões, porque sem eles não respirava, assim a sua existência estaria em causa. As árvores, por muito belas, frondosas, com ou sem flores ou frutos e por muito altas que possam ser, não existiriam se não tivessem raízes. As igrejas, por muito arrebatadores que possam ser, por muitos milagres que tenham presenciado e por muitos crentes fervorosos de fé em oração que possam conter, não existiriam sem fundações. - Uma terceira imagem ocorreu-me há dias. Talvez mais suscetível de discussão fraterna, talvez uma imagem exacerbada de um coração impuro e alma pecaminosa, mas sempre no intuito de não me afastar de Deus, tendo Maria como mediadora. “ Separados de todos, estando unidos a todos já que é em nome de todos que se mantém na presença do Deus vivo”3 oram incessantemente por nós. Assim como os pulmões transformam o dióxido de carbono em oxigénio, também as suas orações seguramente transformarão as nossas ações manchadas de pecados em virtudes. No que respeita às raízes, são elas que dão a força, o vigor e a energia às árvores. São também elas que levam os elementos vitais ao corpo que as suporta e que sem elas não seriam nada, sem elas também não conseguiam suster-se de pé e apontar-nos o caminho para o Altíssimo, tal como aqueles e aquelas que, sobretudo através do seu silêncio e solidão fecundos, unem a sua alma ao Verbo de Deus, a esposa ao Esposo, a terra ao céu, o humano ao divino 4, por Cristo, que é o Caminho, a Verdade e a Vida 5. As fundações da Igreja, mais do que pedras, somos todos nós as pedras vivas 6 da Igreja, mas mais do que nós, a vida contemplativa é o combustível para alimentar e revigorar os membros do imenso corpo que é Cristo, muitas vezes cansados e abatidos, restituindo-lhes a vitalidade e a frescura que precisam para continuarem a edificar 7 o Reino de Deus no mundo. Quase a terminar sinto que todas as ordens contemplativas são como pedra angular 8 e todas elas nesta sociedade em que vivemos e estão inseridas, cada vez mais são tidas como ultrapassadas, cada vez mais rejeitadas 9.

por: Victor Henriques 

Cartuxos (um oásis no meio do deserto) V

O rito cartuxo 
  
“A Ordem Cartusiana, ou Ordem Cartuxa, fundada por São Bruno, é uma das mais rigorosas da Igreja, e muitos santos e beatos saíram de seus silenciosos claustros. Nem todos sabem, por conta do sacro mistério que envolve esse instituto religioso tão importante para a nossa vida espiritual, mas os cartuxos possuem um rito próprio para a celebração de sua liturgia. O chamado rito cartuxo difere, pois, do romano, quer em sua forma ordinária, quer na extraordinária - que com ele convivia nos primórdios da Ordem. Basicamente, o rito cartuxo é um desenvolvimento do antigo rito lionês, praticado na região francesa onde a primeira Cartuxa - assim se chamam seus mosteiros - se instaurou. Alguns aspetos desse rito, diferenciando-o do rito romano, serão por nós abordados no presente e despretensioso artigo, que publicamos nesta semana em que celebramos a memória de São Bruno, fundador da Ordem. A Missa conventual é sempre cantada. Antes da mesma, como que formando parte do rito, há uma adoração do Santíssimo Sacramento, diante do qual se canta a Ladainha de Todos os Santos, incluindo o nome do fundador, São Bruno. Essa adoração se faz sem ostensório, dado que é um objeto desconhecido da liturgia cartusiana. Durante a Missa, mesmo a cantada e conventual, não há acólitos. Não há, como no rito romano tradicional, três tipos básicos - rezada (simples), cantada e solene -, e sim apenas a privada (rezada, simples), e a conventual (que é sempre cantada e solene). Na Missa cantada, solene, conventual, o sacerdote celebrante é ajudado por um diácono, mas sem subdiácono e, como dissemos, sem acólitos. A simplicidade é marca da Ordem e se reflete também na liturgia. Não é uma Missa para o fausto e o esplendor, ainda que eles sejam legítimos, e isso porque suas igrejas são fechadas. Ninguém penetra na solidão da Cartuxa, nem para assistir Missa. O Santo Sacrifício é parte de seu silêncio, de sua espiritualidade, misto de cenóbio e eremitério... Pois bem, nessa Missa conventual, com diácono, há diferenças para com o rito romano. O diácono, por exemplo, não usa dalmática nem alva, cíngulo ou amito. Ele está trajado somente com o hábito religioso cartuxo e uma túnica, sem qualquer paramento. Quando vai cantar o Evangelho, o diácono põe uma estola por cima de seu hábito, retirando-a depois dessa cerimônia. É uma tradição curiosa, bastante distinta de nossa liturgia romana a que estamos acostumados. No Ofertório, sem a estola, o diácono, por cima do hábito, veste uma espécie de véu umeral menor, chamado de syndon. Ele não coloca o vinho no Cálice no Ofertório, nem o padre o faz, pois já foi feito no início da Missa, como no rito dominicano e em ritos orientais. Ademais, no Ofertório, as oblatas do pão e do vinho são cobertas com um corporal: não há pala sobre o cálice, mas um corporal. O diácono só entra no presbitério quando for desempenhar suas funções. Fora disso, permanece no coro.
O subdiácono também não fica no presbitério, permanecendo no coro, de cujo meio, sem qualquer paramento, revestindo-se apenas do hábito, canta a Epístola. Aliás, a igreja cartuxa tem apenas coro e presbitério, sem nave, pois não há fiéis que não os monges. Nas leituras, aliás, em certas festas, os cartuxos utilizam três leituras, como no rito romano moderno. Aliás, também como no rito moderno, o cartusiano termina com o "Ite, Missa est", e não como, no rito tridentino, com a bênção. Isso parece demonstrar o costume medieval, antes da codificação de São Pio V, e que foi retomado, sabiamente, pela comissão pós-conciliar que reformou a liturgia romana. Durante a Comunhão, os monges recebem a Sagrada Eucaristia exclusivamente consagrada naquela Missa a que assistem. A reserva eucarística no tabernáculo, que contém apenas três hóstias pequenas, é para adoração e para os monges enfermos que não podem assistir Missa conventual. Desse modo, nunca se usam, para a Comunhão na Missa, as hóstias da reserva. Os monges comungam na boca, mas permanecem de pé. Como também estão de pé durante a Consagração. É comum a postura do celebrante in modum Crucifixi, como forma de salientar o caráter sacrifical da Missa, atual e bem representativa do despojamento da liturgia cartuxa. Durante a Missa, o sacerdote celebrante usa, por cima de seu hábito, o amito, a alva, o cíngulo, o manípulo, a estola, que nunca é cruzada - no que difere da forma extraordinária do rito romano -, e a casula. Quando está na sede (cadeira), usa um gremial. A vestição dos paramentos é feita diante do altar e não em uma sacristia, no que aproxima a Missa conventual cartuxa da Missa pontifical romana. Os beijos cerimoniais são distintos de ambas as formas do rito romano: o padre beija o altar apenas no início e no fim da Missa, bem como no Credo cantado - na parte "Et homo factus est" -, no Supplices, e antes de beijar o instrumentum pacis, caso o Abraço da Paz seja distribuído entre os monges. Também se beija o Evangeliário, depois de cantar o Evangelho e, ao contrário do rito tridentino, isso se dá mesmo nas Missas de Réquiem. O Asperges, feito aos Domingos, como no rito romano, é cantado não depois da Tércia e antes da Missa, mas antes mesmo da Tércia. Daí que a Missa conventual diária tem, como preparação, a adoração ao Santíssimo, a ladainha, a Tércia e a vestição; e a Missa conventual dominical, a adoração ao Santíssimo, a ladainha, a vestição, o Asperges e a Tércia. O canto gregoriano cartuxo é bem menos elaborado, em suas melodias, do que o romano e beneditino. Para o Kyrie, por exemplo, há apenas três melodias, e para o Gloria somente duas. Falando em Gloria, uma das frases está invertida, sem tomarmos por referência o rito romano: em vez de "propter magnam gloriam tuam", o rito cartuxo traz " p r o p t e r g l o r i a m t u a m m a g n a m " .  O Confiteor é cantado em reto tom, ao contrário do rito romano tradicional, em que é recitado - mas parecido com o rito romano moderno, em que pode ser cantado, semelhantemente à Missa Pontifical em qualquer das formas. Em vez de "mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa", o texto do Confiteor cartusiano dispõe, e apenas uma vez, " m e a c u l p a p e r s u p e r b i a m " . Após o Confiteor, como parte das Orações ao Pé do Altar, o sacerdote reza um Pater Noster e uma Ave- maria.

A duplicidade de orações na Missa cantada (enquanto o coro, diácono ou subdiácono cantam uma parte, o sacerdote rezaria a mesma parte em vox submissa), característica das rubricas tradicionais do rito romano, inexiste na liturgia cartusiana. Há diferenças, enfim, no Calendário Litúrgico, nos Próprios e suas antífonas, no Lecionário, nos sinais-da-cruz durante a Missa, e também na Liturgia das Horas. Desta última, a mais característica, é que cada Ofício é rezado duas vezes: uma conforme o dia, e outra, em seguida, tirada do Ofício da Bem-aventurada Virgem Maria. Assim, há duas Laudes, duas Vésperas, duas Completas etc. Ademais, os textos do Próprio, do Saltério e do Ordinário da Liturgia das Horas são diferentes do disposto no Breviário Romano. Outra distinção, própria do rito, é que nas profissões religiosas solenes das monjas cartuxas, elas são revestidas de estola e de manípulo. No jubileu monástico, a religiosa cartuxa voltará a usar esses paramentos, bem como quando for velada e enterrada. Alguns vêem nessa prática um resquício da antiga cerimônia de instituição de diaconisas - as quais, entretanto, não recebiam o sacramento da Ordem, sendo antepassadas das religiosas de vida ativa. Após a Missa, o sacerdote celebrante se prostra diante do altar, e faz sua ação de graças desse modo, durante quinze minutos. São quinze minutos de prostração, com um significado penitencial profundíssimo. Ainda na questão dos paramentos, o pluvial é desconhecido dos cartuxos. Enfim, quem quiser, pode ler o texto, em latim, do O r d o M i s s a e cartuxo, que pode ser baixado, em formato Word, aqui ii. A Missa privada é celebrada, por cada padre, após ter assistido a Missa conventual, e é sempre combinada com a hora canônica de Tércia. Cabe lembrar que, após a reforma de Paulo VI em relação ao rito romano, o rito cartuxo também foi levemente modificado, a partir de 1981. As três novas Orações Eucarísticas, por exemplo, podem hoje ser usadas pelos cartuxos, porém apenas nas Missas "privadas", i.e., celebradas pelos padres do mosteiro com a presença de apenas um assistente ou sem ninguém. A Missa conventual diária, celebrada normalmente pelo prior, continua a usar apenas o Cânon Romano tradicional. Outra pequena modificação, após o Vaticano II, foi a introdução de novos santos e festas no calendário. A palavra "omissione" foi acrescida no Confiteor, como no rito romano moderno.”

por: Victor Henriques 

Cartuxos (um oásis no meio do deserto) IV

N a  o i t a v a   d a   p u r i f i c a ç ã o  

“Contemplemos na Purificação a festa do sacerdócio da Santíssima Virgem. Em 1º lugar debrucemo-nos sobre o que conhecemos pela Escritura acerca dos gestos de Maria nesse dia. Chega diante do Templo uma jovem mãe trazendo envolta nos véus o Menino Jesus. José acompanha-a, levando duas rolas numa gaiola e cinco moedas de prata numa bolsa. Entrega uma rola ao sacerdote que é aspergida com água lustral. Depois sobe mais alguns degraus e oferece as cinco moedas e outra rola. Finalmente entra no Templo, e ei-la na presença do Pai para quem ela estende o seu filho – o Filho de Deus e seu filho também. E , n e s s e  p e q u e n o  s e r , está contida toda a humanidade: todos os esforços, todos  o s  s o f r i m e n t o s , todas as alegrias dos cristãos, estão já no coração de Jesu s , e M a r i a  o f e r e c e ao Pai todos os filhos que virá a ter. Pensa nisso, seguramente , e  s a b e  q u e  este seu gesto tem um alcance e um valor infinitos. Nesse  m i n u t o , já ela nos amava no seu coração virginal e nos oferecia ao Pai . Toda a nossa vida deve consistir em nos preparamos para sermos oferecidos deste modo. Todas as nossas ações e pensamentos devem ser tais que a Virgem Santa os possa apresentar a Deus. A primeira condição é levar uma vida pura e reta. A segunda exigência é a solidão do coração. O nosso coração é um templo maior que o de Jerusalém. Devemos estar neste templo a sós com Deus e com a Virgem Santa; porque a virgem não perturba a solidão com Deus; ao contrário, assegura-a. É preciso que reine um grande silêncio e uma grande paz, sobretudo, que se evitem discussões. Se fizermos juízos sobre os nossos irmãos, se interiormente estivermos ocupados em queixarmo-nos, em comparar situações e pessoas, então o templo do nosso coração não estará tranquilo. Não só o nosso coração não deve estar ocupado por preocupações estranhas, como é preciso que o não esteja inclusivamente pelas próprias. Devemos lamentar os nossos pecados sim, mas sobre tudo fazer o possível por sermos cada vez melhores. É em Deus que devemos pensar e não em nós mesmos. Enquanto nos inquietarmos por coisas supérfluas, Maria não poderá exercer em nós o seu sacerdócio virginal. A terceira condição é estar perto do abandono, condição para que a alma se torne oferenda a Deus nas mãos de Maria. Devemos fazer-lhe o dom dos nossos cuidados, entregar-lhe a solução de todos os casos, devemos atingir a despreocupação de criança. O Evangelho intima-nos a isso com tanta insistência que faz parecer tímidas todas as palavras humanas a este respeito. Pedro, no capítulo V da sua primeira Epistola, sintetiza-as num preceito:
 L a n ç a i  t o d o s  o s  v o s s o s  c u i d a d o s  e m  D e u s . Ponhamo-nos de olhos fechados entre as mãos da Virgem Santíssima para que ela cuide de nós e nos ofereça a Deus. Nenhum juízo deve ser feito sobre as perfeições dos nossos irmãos, isso é outra coisa que será bom abandonarmos a Maria. Àquele que se abandona deste modo, posso garantir que a Virgem não tardará em tomá-lo nos seus braços e em o elevar até ao Pai…
T o d a  a   arte  d e  p a s s a r  d e s t e  m u n d o  p a r a  D e u s  se resume em fechar os olhos e entregar o leme à Maria. As três condições do sacrifício mariano andam sempre juntas e são inseparáveis por natureza. Ao agirmos assim, Ela então pegar-nos-á e cada uma das nossas ações oferecidas por ela ao Pai terá um valor infinito. Já não há pequenas coisas, tudo é imenso porque está nas mãos de Maria. Para uma alma assim, o que poderá parecer uma montanha não passará de um incidente insignificante.

por:  Victor Henriques 

Cartuxos (um oásis no meio do deserto) III

Longe vão os dias em que vi um pequeno documentário da SIC (penso), no qual o monge (P. Antão Lopez) ao ser entrevistado respondia a uma determinada pergunta mais ou menos assim: “- Estarei aqui até D e u s querer. Se amanhã acabarmos…” 
Há poucos dias, tomei conhecimento através de um sitio 1 na net que, por decisão do Capitulo Geral da Ordem do passado mês de junho, a Cartuxa de Évora está na eminência de fechar as suas portas e os monges que ali vivem serem deslocados para outras Cartuxas. A ser assim, Portugal perderá o seu único mosteiro da Ordem Cartuxa, ficando a Cartuxa de Nª Sª Medianeira, no Brasil, o único de língua portuguesa. 
Lembro ou relembro, consoante o caso, que estes monges em 1834, por altura da expulsão das Ordens Religiosas do país, foram obrigados a abandonar o convento. Depois de um interregno de mais de um século esta " c a s a d e D e u s " foi-lhes devolvida, e no passado ano comemoraram o seu Cinquentenário de regresso. Confesso que fiquei um pouco triste com esta partida prematura, no entanto, no meu modesto entender só Deus sabe o que é melhor para estes homens que por nós oram incessantemente. Sonhei um dia visitá-los, nem que fosse apenas por umas horas. Respirar um pouco aquele ar imaculado e sentir a santidade possível neste mundo.  Se calhar não passou disso mesmo “um sonho” desta minha grande empatia por eles.  Não importa para onde irão, porque onde quer que estejam, sei e sinto que oram por nós todos, aqueles que “aqui ficam”. Termino com um humilde mas sentido poema que lhes escrevi 2.  

S a n t a  M a r i a  S c a l a  C o e l i  3 
Vós que estais aí
Sois como um oásis no deserto
Água fresca num dia quente
 Pureza viva nesta sociedade suja e moribunda 
Vós que aí estais
Esquecidos por nós
Continuai a orar por todos
Aqueles que aqui estamos 
Vós sois
 O sal da terra que dá sabor à vida

A luz do mundo que ilumina a escuridão nossas almas salobras

por:Victor Henriques  

Cartuxos (um oásis no meio do deserto) II

É um filme sem actores, falas, luzes, efeitos especiais ou banda sonora, no entanto, com tudo para ser um dos melhores que vi até hoje. Refiro-me ao filme que dá pelo nome de “ O G r a n d e S i l ê n c i o ”, da autoria do alemão Philip Groning sobre o quotidiano dos monges de um mosteiro Cartusiano, mais precisamente da casa-mãe, a G r a n d e C h a r t r e u s e , nos Alpes franceses, fundada por São Bruno de Colónia (103-1101), em 1084 (séc. XI). Apesar do seu nome “sugestivo” é um filme com quase 3 horas, mas com um silêncio que nos fala ao coração. São quase 3 horas absorventes e emocionantes onde, sem nos apercebermos, mergulhamos num mundo tão misterioso e frequentemente tão silencioso como o lado não visível da Lua. Contudo, para entrarmos neste filme devemos agir como quem se recolhe em oração. As imagens, essas conduzem-nos a uma misteriosa mas profícua peregrinação interior. Tal como o tempo de Deus é diferente do nosso, também a autorização para a realização deste filme demorou cerca de 17 anos a ser concedida, pelo prior-geral da Ordem, aliás, estes monges também não vivem de acordo com o nosso senso de tempo. Atrevo- me a dizer que a paciência de Groning em relação a este projecto teve algo de divino, como se o tempo certo para o realizar tenha sido “aquele” e não “antes”. “Susto. Surpresa. Choque.” Foi assim que o Pe. Antão López, da Cartuxa de Évora, começou por falar deste filme, adiantando que “o filme retrata com fidelidade a existência cartusiana, na sua
liberdade de mil coisas supérfluas, para vivermos o essencial que é Deus.” Trata-se de um filme sobre a presença do absoluto e a vida de homens que dedicam a sua existência a Deus.  O silêncio, ali, não é um silêncio absoluto. A bem da verdade, o filme está cheio de sons. O som de uma gaveta que é aberta, uma tesoura que rasga um tecido de pano, um sino que toca, das orações, do vento, da lenha a crepitar ou dos risos em momentos de brincadeira. Então, se não há silêncio, por que se chama “ O Grande Silêncio ”? Penso que será porque há uma absoluta surdez relativamente a tudo o que são os “nossos” sons ou melhor dizendo, os “nossos” ruídos. Termino com uma passagem, das poucas onde “ O Grande Silêncio ” é interrompido por algumas palavras (por sinal de uma profundidade inalcançável) e que ficaram-me gravadas com uma dos maiores louvores que se podem fazer a Deus Nosso Senhor, um amor incondicional ao Pai. Refiro-me a uma passagem, na qual um monge mais idoso quebra o silêncio para Lhe agradecer por tê- lo tornado cego. Depois termina dizendo: “ T e n h o a c e r t e z a q u e D e u s o f e z p a r a o b e m d a m i n h a a l m a ”. 

Este filme ganhou os Prémios de Melhor Documentário no Festival de Sundance e nos Prémios Europeus do Cinema.

por: Victor Henriques 

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Cartuxos (Um oásis no meio do deserto)

“A vós, estimados filhos e queridas filhas da Cartuxa, que sois os herdeiros do carisma de São Bruno, compete conservar em toda a sua autenticidade e profundidade a especificidade do caminho espiritual que ele vos mostrou com a sua palavra e o seu exemplo. O vosso apreciado conhecimento de Deus, alimentado na oração e na meditação da sua Palavra, convida o povo de Deus a alargar o próprio olhar até aos horizontes de uma humanidade nova e rica da plenitude do seu sentido e unidade. A vossa pobreza oferecida para a glória de Deus e a salvação do mundo é uma eloquente contestação das lógicas de rendimento e de eficácia que, muitas vezes, fecham o coração dos homens e das nações às verdadeiras necessidades dos seus irmãos. A vossa vida escondida com Cristo, como a Cruz silenciosa plantada no coração da humanidade redimida, permanece de facto para a Igreja e para o mundo o sinal eloquente e a chamada permanente do facto que cada ser, hoje como ontem, se pode deixar prender por Aquele que é amor.” – Excerto da mensagem do Santo Padre aos membros da família dos cartuxos do IX centenário da morte de São Bruno.
                                                           
Poderia começar este artigo de opinião de inúmeras maneiras, mas este excerto espelha aquilo que os Monges e Monjas Cartuxos vivem na liberdade plena da clausura de uma cela que acolhem por amor. Estes homens e mulheres trocaram a vida (como a maioria de nós a conhecemos) por uma outra vida, onde rezam pelo mundo e pelas suas necessidades, com aqueles que rezam e pelos que não rezam, com aqueles que têm fé e pelos que a não têm ou a perderam. Ninguém os vê, (atrevo-me a dizer que é quase um apostolado invisível), mas sente-se a sua presença. “- Mas quem são estes monges Cartuxos e o que fazem concretamente?” Impõe-se a pergunta! Não sendo um entendido na matéria, mas apenas um Cristão que nutre uma grande empatia por esta Ordem monástica, assim denominada (Cartuxa) por ter nascido nas montanhas de Chartreuse, impõe-se um pouco de história destes homens e mulheres que há mais de 900 anos continuam fiéis aos princípios do seu fundador São Bruno e quase nada foi alterado, fazendo jus ao lema inscrito no seu brasão “Stat Crux Dum Volvitur Orbis” que traduzido do latim para português quer dizer “Enquanto o mundo gira, a Cruz permanece firme”. A propósito disto, o Prelado eborense, no cinquentenário do restauro do Convento da Cartuxa de Santa Maria Scala Coeli, recordou os princípios que estão na base desta ordem e explanou uma tradução mais livre e mais enriquecedora para todos os Cristãos “O mundo gira, evolui e transforma-se mas a cruz permanece sempre com o mesmo significado espiritual, o mesmo valor redentor e o mesmo poder de atracção. (…)” 2 Esta Ordem, em inúmeros locais na net é referida como sendo a mais austera, pelo silêncio e solidão vividas. Em tudo são o “contrário” daquilo que é a vida dos nossos dias. A grande maioria de nós não suporta o silêncio, daí possuirmos rádios, televisões e outros objectos semelhantes, “só para preencher esse silêncio”, e vemos a solidão como uma doença terrível. No entanto, para os Cartuxos, silêncio e solidão é tudo menos isso. Eles optaram pela austeridade, optaram por uma vida de silêncio e pela solidão. Como se vivessem no deserto, têm como ícone São João Baptista. Para eles Deus fala no deserto, pois só com o silêncio se pode ouvir Deus e só com a solidão se poderá desfrutar da sua presença. O silêncio destes homens, imposto por regra mas acolhido por vocação, é diferente dos nossos silêncios. Os nossos são, às vezes, sinal de angústia, de debilidade, de medo, de orgulho e até de ódio poderão ser. Já o verdadeiro silêncio cristão é um silêncio positivo, de humildade, de contemplação, de alegria e de amor.
  São pouco conhecidos. Não fazem grandes propagandas nem vocacionais nem existenciais. Mas eles lá estão, rezando pelo mundo e suas necessidades, com os que rezam e pelos que não rezam, com os que têm fé e pelos que a não têm ou a perderam. Ainda que timidamente e com a humildade de um aprendiz de Cristão que O segue, como a Virgem Santíssima O seguia, defendo-os contra aqueles que apregoam que são pessoas 'inúteis' ou que fariam melhor trabalho pelo reino de Deus se andassem pelo mundo a pregar o Evangelho. Só quem não compreende a mística do silêncio e o valor da oração é que pode dizer uma barbaridade tamanha. Sentir que enquanto nós trabalhamos, discutimos ou outra situação similar, nos esquecemos de Deus, enquanto eles ali estão, no silêncio e na solidão, com Deus, suprindo de algum modo esse nosso esquecimento. São Bruno, numa carta que dirigiu a um seu amigo de nome Raul, explicava- lhe o que era a Cartuxa, escrevendo: "Que utilidade e gozo divinos trazem consigo a solidão e o silêncio do deserto a quem os ama; só o sabem quem os experimentou. Aqui podem os homens esforçados recolher- se em si quanto queiram, e morar consigo, cultivar com afã as sementes das virtudes, e alimentarem-se felizes dos frutos do paraíso. Aqui se adquire aquele olho cujo olhar fere de amor ao Esposo, olhar limpo e o puro vê a Deus. Aqui pratica-se um ócio laborioso, e repousa-se numa sossegada actividade. Aqui, com o esforço do combate, Deus premeia os seus atletas com a sua benevolência, a saber, 'a paz que o mundo ignora e o gozo no Espírito Santo '". Traduzindo por “miúdos” diria que os Cartuxos são uma “fonte misteriosa e inesgotável de energia espiritual”. Depois de algum fervor nas minhas palavras sobre esta Ordem, devo também, dentro dos meus parcos conhecimentos, explicar o seu modo organizativo. Em termos de efectivos, não chegam a 400, repartidos por 25 mosteiros ou cartuxas, ressalvando em especial a existência de uma em Portugal, mais propriamente em Évora. 3 Cada uma é dirigida por um Prior eleito em escrutínio secreto. É ele que nomeia, depois, o conselheiro (mas que tem o titulo de vigário porque faz as suas vezes), o mestre de noviços e o procurador. O governo da Ordem da Cartuxa, em geral, pertence ao Capítulo dos Priores que se reúne de dois em dois anos na Grande- Chartreuse, a casa-mãe. O Prior da Grande-Chartreuse é, ao mesmo tempo, o Prior Geral da ordem. Quanto à formação de um monge Cartuxo, segue os seguintes moldes: - Após um tempo de discernimento, que poderá durar vários anos, e um longo retiro, o aspirante é introduzido no coro dos Monges. Segue-se o período de postulado que pode ir de três meses a um ano, após o qual os monges em escrutínio secreto votam o acesso do candidato ao noviciado. O noviciado dura cerca de dois anos junto ao mestre de noviços para permitir uma familiarização com a espiritualidade, a liturgia, a Regra e os Estatutos da Cartuxa. Após o primeiro ano inicia-se a formação doutrinal, a saber: Padres do deserto, História da Igreja, Sagrada Escritura e demais doutrina, no fim do qual o noviço é admitido à profissão temporária pela Comunidade. Após cinco anos dos votos temporários, e de contínua formação, o candidato é admitido à “grande profissão” e faz promessa de “estabilidade”, “obediência” e “conversão total”. No que toca a hábitos e ao regime alimentar, a única refeição quente do dia é tomada ao meio-dia. Cela a cela é deixado pelos irmãos da cozinha o prato contendo peixe (nunca carne), legumes, compota. À tarde são dois ovos e fruta. Esta última refeição é suprimida durante a Quaresma. Têm sempre o cabelo curto, (cabeça mesmo quase rapada), usando alguns a barba. O seu hábito é constituído por uma grande túnica branca apertada na cintura por um cinto branco também. Por cima da túnica um grande escapulário, branco também, cujos panos da frente e detrás são ligados por duas tiras de lã. O que poderá ser mais “difícil de compreensão” para o comum dos mortais é o dia do Cartuxo, que é regido pelo seguinte horário 4: 
23h45 - Levantar 24h00 - Matinas do pequeno Ofício de Nª Senhora
4 Note-se que este horário varia de Cartuxa para Cartuxa.
Na de Évora (Santa Maria Scala Coeli) à meia-noite cantam sempre Matinas + Laudes,
às 6:45 angelus e Prima,
às 7:45 Missa + Tércia,
às 12:00 hora sexta e refeição,
às 15:00 hora nona e ás 17:00 Vésperas.
24h15 - Laudes (na Igreja)
 02h45 - Laudes de Nossa Senhora (na Cela)
06h45 - Levantar 07h00 - Angelus. Hora Prima da Nossa Senhora e do dia.
07h30 - Exercícios espirituais (na Cela) 08h00 - Hora Tércia
08h15 - Missa Conventual 10h00 - Exercícios espirituais (na Cela)
11h15 - Hora Sexta
11h30 - Refeição (na Cela)
12h30 - Tempo livre. Arranjo da Cela e outros trabalhos (na Cela)
13h15 - Hora Nona 13h30 - Exercícios espirituais (na Cela). Algumas vezes pequenos trabalhos de jardinagem
 15h30 - Vésperas de Nª Senhora (na Cela)
15h45 - Vésperas do dia (na Igreja)
16h15 - Exercícios espirituais (na Cela)
17h15 - Pequena refeição
 18h45 - Angelus. Exercícios espirituais (na Cela)
19h15 - Completas do dia e de Nossa Senhora (na Cela)
 20h00 - Descanso

Apesar do muito que disse ou possa pensar que foi dito, não passou de um grão de areia na realidade vivida e sentida do Cartuxo, ao contrário de mim, que apenas me baseei em livros já lidos e o sitio da casa-mãe na net 5, isto é, muita teoria e prática zero.  Termino este artigo com o pensamento abaixo, que entretanto me ocorreu: “ C a r t u x o s - Homens de Deus e Homens de Oração que no silêncio e na solidão conversam com Deus.” 6

por: Victor Henriques 

quinta-feira, 29 de maio de 2014

A Fé de uma criança


Foi na áfrica central. No abrigo improvisado das missionárias, uma mulher entrou em trabalho de parto.

Apesar de todos os esforços da equipe, ela não resistiu e morreu, logo após dar à luz um bebê prematuro.

Sua filhinha de dois anos começou a chorar e não havia o que a pudesse consolar.

Não havia eletricidade e, portanto, era complicado manter o bebê vivo sem uma incubadora.

Ele foi colocado em uma caixa e envolto em panos de algodão.

Bem depressa alguém foi alimentar o fogo para aquecer uma chaleira de água para a bolsa de água quente.

Mesmo morando na linha do equador, as noites eram, por vezes, frias e sopravam aragens traiçoeiras.

Logo descobriram que a única bolsa para água quente estava rompida.

"Que fazer?" - pensou a responsável.

Providenciou para que o bebê ficasse em segurança tão próximo quanto possível do fogo. À noite, para protegê-lo das lufadas de vento frio, as moças deveriam dormir entre a porta e o bebê.

Na tarde seguinte, a missionária foi orar com as crianças do orfanato. Para as incentivar à oração, ela fez uma série de sugestões e lhes contou a respeito do bebê.

Explicou a dificuldade em mantê-lo aquecido, sem a bolsa de água quente. Também disse que o bebê poderia morrer de frio.

Mencionou ainda a irmãzinha de 2 anos que não parava de chorar a ausência da mãe.

Então, uma menina de 10 anos se ergueu e orou em voz alta: "por favor, Deus, manda-nos uma bolsa de água quente. Amanhã talvez já seja tarde, porque o bebê pode não agüentar.

Por isso, manda a bolsa ainda hoje.

E... Deus, já que estás cuidando disso mesmo, por favor, manda junto uma boneca para a irmãzinha dele, para que saiba que também a amas de verdade."

A missionária nem conseguiu dizer assim seja. Poderia Deus fazer aquilo?

O único jeito de Deus atender o pedido da menina seria por encomenda de sua terra natal, via correio. Ela lembrou que estava na áfrica central há 4 anos.

Nunca havia recebido uma encomenda postal de sua casa. E mesmo que alguém tivesse a idéia de mandar um pacote, quem pensaria em mandar uma bolsa de água quente, para um local na linha do Equador?

Naquela tarde, um carro estacionou no portão da casa e deixou um pacote de 11 kg. na varanda.

As crianças do orfanato rodearam o pacote. Quarenta olhos arregalados acompanharam a abertura. Eram roupas coloridas e cintilantes. Havia também ataduras, caixinhas de passas de uva e farinha. E, bem no fundo, uma bolsa de água quente, novinha em folha.

Rute, a garota que pedira a bolsa, na prece, gritou: "se Deus mandou a bolsa, mandou também a boneca."

Será?

E lá estava ela. Linda e maravilhosamente vestida.

Olhando para a missionária, Rute perguntou: "posso ir junto levar a boneca para aquela menina, para que ela saiba que Deus a ama muito?"

O pacote fora enviado há 5 meses, por iniciativa de uma ex-professora da missionária, que resolveu enviar uma bolsa de água quente, sem mesmo saber porquê.

Uma das suas auxiliares, ao fechar o pacote, decidiu mandar uma boneca.

Tudo isso, cinco meses antes, em resposta a uma oração de uma menina de 10 anos que acreditou, fielmente, que Deus atenderia a sua oração, ainda naquela tarde.

E há quem duvide que Deus é onipresente e onisciente!

quarta-feira, 28 de maio de 2014

A instabilidade do nosso coração e da intenção final, que deve ser colocado em Deus.

Meus filhos não confiam no estado de espírito em que você está agora; logo ele vai se transformar em um arranjo diferente. Ao longo da vida você vai ser coberto, mesmo se você não quer, nesta mutabilidade. De tempos em tempos, você vai encontrar feliz ou triste, calmo ou chateado, ou não fervoroso, ansioso ou preguiçoso, pensativo ou impensado. Mas aquele que é cheio de sabedoria e doutrina espiritual permanece firmemente em cima destes, não se importando com o que eu sinto por dentro, ou o caminho que o vento da instabilidade espiritual; tendo o cuidado, no entanto, que todo o propósito da sua alma redundará até o fim e datas de vencimento. Então, na verdade ele próprio será sempre tão inflexível, mantendo constantemente fixos em mim, mesmo assim através de vários eventos, o olho da intenção pura.

E o mais puro será o olho da intenção, o mais seguro será o caminho em meio a várias tempestades. Mas essa intenção pura olho, em muitas pessoas, é ofuscado, porque nossos olhos estão voltados rapidamente para algo de bom que salta antes.E então você raramente vai encontrar um que seja completamente livre desse inconveniente, para buscar sua própria satisfação: Como os judeus que tinham vindo, que o tempo, a Betânia, Marta e Maria ", não para ver Jesus, mas para ver Lázaro "(João 12:9). Portanto, é necessário que o olho da intenção de purificar, de forma simples e reto; é necessário que, além de todas as várias coisas que se destacam, tanto que me dirigiu.

A Solidão.

Tomado de uma passagem de um cartuxo, anônimo como de costume, provavelmente, o mestre de noviços, neste sermão, a partir de São Bruno elogia a admirável solidão.


"O próprio São Bruno, melhor do que alguns de seus filhos, indicou a relação exata entre solidão e santidade. Em uma carta que escreveu ao seu amigo Raoul Le Verd, instando-o a manter a promessa que haviam feito juntos "para escapar deste mundo efêmero ... e colocar o hábito monástico", diz ele, "Quanto benefício e alegria divina pode trazer para a solidão e o silêncio da ermida para aqueles que os amam, eles sabem apenas aqueles que tiveram a experiência. Aqui, de fato os homens generosos pode coletar, quando eles querem, para habitar em si mesmos, ocupada cultivar as sementes da virtude e aproveitar os frutos do Paraíso. Aqui você comprar aquele olhar de serenidade que fere o amor do Esposo celestial, que o olho que vê Deus pura e brilhante aqui o resto se juntou ao trabalho, a tarefa não é sem agitação e perturbação. Aqui Deus, na recompensa das batalhas travadas, dá seus atletas a recompensa desejada, ou seja, a paz que o mundo ignora, ea alegria do Espírito Santo. Querido irmão, você não pode ter apenas um desejo, a ser atraídos para essa paz e alegria, e queimar com o amor divino. " San Bruno nesta carta ele descreveu a profunda beleza da vida solitária na intimidade com o Senhor, mas antes de aprender a viver com Deus, a solidão em monaco deve primeiro aprender a viver com ele mesmo. A teoria é simples: esquecer. 
A prática pode ser muito mais difícil.Solidão não tem necessidade de instruir um mestre de noviços para agir em seu nome; ele começa a trabalhar com ardor. Seus métodos são ásperas; pelo menos a maioria dos juízes recém-chegados, bem como, para que a solidão perdeu a maioria dos recrutas. Eles ir para outro lugar para procurar um doce professor. Mas "ir embora" está abaixo da verdade para todos - e o número é grande - fugindo em pânico real.

Na cela que o Estado se compromete a não deixar, não há possibilidade de fuga de si mesmos. Temos de lidar com esta situação. Claro seduzir a si mesmo é simplesmente impossível, porque você está diante da sua miséria, sua própria impotência, ganho por um sentimento total de fraqueza.
 Em seu isolamento, o Monge é privado de todo o conforto humano, e não tem nem um emprego nem um interesse para encontrar um remédio. Você tem alguma coisa ou alguém que não seja Deus e só Deus para encontrar, ao mesmo tempo, o direito de continuar a viver ea força para fazê-lo. O significado da cela torna-se agora terrivelmente clara: "Ide" de Deus ou sair. " Quem recebe a chamada para a solidão é simplesmente forçado a olhar para a sua coragem e toda a sua força a cada instante em Aquele em quem ele vive e se move. E com um amoroso falta de misericórdia, Deus oprime a alma com seus tiros que ele quer apresentar-se como uma noiva radiante, sem mancha nem ruga. Na solidão, chegamos a um conhecimento da crescente nada e percepção cada vez mais clara de que Deus é tudo para a alma: o poder, luz, vida e amor. "Tolo que eu era e eu não entendi, eu estava na frente de você como um animal. Mas eu estou sempre contigo; tomaste pela mão direita, guia-me com o teu conselho, e depois me receberás na tua glória (Sl 73,22-24). Para a hora da libertação está na mão ... quando "Deus dará seus atletas a recompensa de suas lutas
." E através de tal evidência que "na solidão e no silêncio da ermida de comprar aquele olho cujo sereno olhar de amor dói o Esposo da alma." Não há necessidade de falar do efeito de tal sofrimento na vida de oração: você pode facilmente compreender a partir da carta de São Bruno. Batido, dobrado, esmagado, despojado de qualquer apreciação de si mesmo como um enganador e ilusório sobre si mesmo, vazio e aberto diante de Deus, passivo e receptivo para o que ele vai se dignou a conceder-lhe, a sua oração tornou-se cada vez mais um olhar longo e duro o Bem-Amado, um olhar que implorava por ajuda desde o início e piedade, então definhava esperança e desejo, e finalmente saltou para uma gratidão e amor, sem palavras. Livres da tirania dos sentidos, da imaginação e finalmente, o coração pode continuar a amar. Esta união simples e amorosa de corações - aquele que derrama o outro - é contínua durante quase todo o dia. Solidão não é um mestre cruel. É o mais requintado de amigos. É cheio da presença do Amado. "

terça-feira, 27 de maio de 2014

Carta de João Paulo II para os Cartuxos.

«Silentio et solitudini»
O Papa João Paulo II
Para o meu filho amado ANDREA POISSON
Ministro Geral da Ordem dos Cartuxos

"Espere por silêncio e solidão da cela " é, como se sabe, a aplicação mais importante e vocação da Ordem dos Cartuxos , para que você preside .
Os seus membros , na sequência do apelo singular de Deus , passaram " pela tempestade deste mundo seguro e refúgio tranquilo de descanso ', para viver somente para Deus
A Ordem dos Cartuxos se esforça para levar essa "vida escondida com Cristo" ( cf. Cl 3,3) com energia louvável e firmeza , para alguns 900 anos .
Isto é justamente neste momento em que celebramos a memória de sua fundação . Na verdade , São Bruno, homem eminente, com alguns companheiros começaram a esta forma de vida além do mundo em um lugar chamado Charterhouse na diocese de Grenoble, a 24 de junho do ano 1084, o dia dedicado a São João Batista , " o maior entre os profetas e eremita ", que os cartuxos honra como o santo padroeiro celestial após a Santíssima Virgem Maria .
Comemorando um evento tão feliz que combinam nossa alegria ao seu coração e felicitando todos de tal fidelidade perseverante , queremos aproveitar esta oportunidade para expressar a toda a Família Certosina nossa estima particular e nosso amor paternal.
Desde os primeiros séculos da Igreja , como é conhecido, viveu os eremitas dedicado à oração e ao trabalho no deserto, homens " que deixaram tudo o que tinham abraçado a vida do céu "; teve sua origem a partir da mesma vida religiosa.

Seus exemplos provocou a admiração de muitos homens e incitou à virtude. São Jerônimo, para citar apenas uma testemunha , entre muitos outros , elogiado com palavras brilhantes esta vida oculta dos monges : " O deserto, adornado com flores de Cristo ! O solidão, onde as pedras são nascidos com a qual construir a cidade do grande Rei , de acordo com a visão do Apocalipse! Ou eremitério, onde você pode saborear a Deus mais familiarmente ".
Várias vezes os Pontífices Romanos aprovados e elogiados nesta vida segregado do mundo e, recentemente , no que diz respeito a você , o Papa Pio XI em sua Constituição Apostólica " Umbratilem " e Paulo VI em sua carta que você enviou para o Capítulo Geral.
O Concílio Vaticano II louvou esta vida solitária , com o qual os habitantes do deserto seguir Cristo mais de perto dedicada à contemplação na montanha, e afirma a fecundidade misteriosa que emana na Igreja.
Finalmente, o novo Código de Direito Canônico reitera fortemente essa verdade ao afirmar que : " Os Institutos totalmente dedicados à contemplação têm sempre um lugar de honra no Corpo Místico de Cristo" ( can. 674 ) .
Tudo isso combina com você , freiras amados e monges da Ordem dos Cartuxos , que , sem relação com o barulho do mundo ", que escolheu a melhor parte » (cf. Lc . 10,41 ) .
Portanto , o rápido fluxo de eventos que chamam os homens do nosso tempo, é necessário que você , rifacendovi continuamente ao espírito original do seu pedido , você permanece firme, inabalável e vontade, na sua santa vocação.
Nosso tempo de fato parece precisar o exemplo e serviço de este o seu modo de vida.
Os homens de hoje , divididos entre opiniões divergentes e muitas vezes perturbados pelas idéias flutuador, induzido até mesmo em perigo de ordem espiritual a publicação de uma série de escritos e, principalmente, pelos meios de comunicação que têm grande poder sobre as mentes , mas que às vezes estão em oposição à doutrina e moral cristãs , eles precisam procurar o absoluto, e tentei vê-lo de uma certa maneira por uma testemunha.
Dê-lhes este testemunho é a sua tarefa.
E até mesmo os filhos e filhas da Igreja que se dedicam a atividade apostólica deve , oscilando entre realidade e mundo transitório , contam com a estabilidade de Deus e do Seu amor , que eles vêem em você testemunhou que você compartilhá-lo de uma maneira especial em esta peregrinação terrena.
A própria Igreja , como Corpo Místico de Cristo tem entre suas principais tarefas o dever de oferecer continuamente o sacrifício de louvor à Divina Majestade , precisa de sua solicitude piedoso, que diariamente " persistem nas vigílias do divino . "
No entanto, devemos reconhecer que a vida do seu eremita , nestes tempos , o que talvez dá muita importância ao trabalho , não é suficientemente compreendido ou justamente estimado, sobretudo tendo em conta a falta de muitos trabalhadores na vinha do Senhor.
Contra o parecer deve -se afirmar que os cartuxos , mesmo em nosso tempo , deve garantir plenamente o verdadeiro rosto de sua Ordem .
Isto é perfeitamente compatível com o novo Código de Direito Canônico , que, embora tendo em conta as necessidades urgentes do ativo, protege o carácter específico da vocação dos membros dos Institutos puramente contemplativos. Isso também é por causa do serviço que eles oferecem para o povo de Deus, que " incentivam o exemplo e dilatam com misteriosa fecundidade apostólica " (cf. cân. 674 ) .
Portanto, se , por essa razão os membros de sua família "não pode ser chamado a pagar a ajuda de seu trabalho nos diversos ministérios pastorais" ( cân. 674 ) , deve ser feito por você , se não notável, nem mesmo aquele outro forma de apostolado , que consiste na aceitação de pessoas de fora que querem passar alguns dias na solidão sagrada de seus mosteiros , porque isso não concordo com a sua vocação como um eremita.
Sem dúvida, as muitas e rápidas mudanças da sociedade contemporânea , as novas teorias psicológicas que influenciam as mentes , especialmente dos jovens, e tensão nervosa que tantos sofrem de hoje , pode dar origem a dificuldades na comunidade dos Cartuxos , especialmente entre aqueles que ainda estão no período treinamento.
Portanto, você deve agir com prudência e firmeza - não negligenciar todos os esforços para compreender as dificuldades dos jovens - a fim de manter o seu carisma autêntico em sua totalidade, sem se afastar do seu Estatuto testado.
Apenas um vai inflamado com amor a Deus e dispostos a servir bravamente em uma vida austera segregados do mundo , ajudá-lo a superar obstáculos.
A Igreja está com você, amados filhos e filhas de São Bruno, e olha grandes frutos espirituais de suas orações e sua austeridade que pretendem amar a Deus
Já tivemos ocasião de dizer , falando de uma vida consagrada a Deus: " . O importante não é o que você faz, mas o que você é " Isso parece se aplicar a você de uma maneira especial que você se abstenha de vida ativa.
Assim, enquanto comemoramos as origens de seu pedido, certamente você vai se sentir compelido a juntar-se com renovado ardor do amor e da alegria a sua vocação sublime espiritual.
E, finalmente, há um sinal do amor que ditou esta carta, e um penhor de graça abundante do Céu, a Bênção Apostólica que de todo o coração concedo-vos filho amado no Senhor , e todos os monges e monjas da Ordem dos Cartuxos .


Do Vaticano , 14 de maio de 1984, sexto ano do nosso Pontificat

A vida fraterna na Cartuxa


Irmãos em Cristo

O objetivo de toda a vida monástica é a perfeição do amor de Deus. Mas Cristo nos ensinou que não se pode separar do amor de Deus e o amor ao próximo, a um e outro vai aprofundar juntos. Toda a vida cristã e, portanto, também a vida do cartuxo, resultado em uma dimensão fraterna. Na Última Ceia, Jesus disse: “Eu vos dou um novo mandamento: o amor um do outro. Assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Por isso todos saberão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros “.
O apóstolo São João, dirigindo-se as primeiras comunidades cristãs, ecoando as palavras de seu mestre: “Aqui é o mandamento que temos dele: quem ama a Deus ame também a seu irmão … Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus que ama é nascido de Deus e conhece a Deus que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor ….. Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós eo seu amor em nós é perfeito …. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele “.
Como já mencionado, a Cartuxa formar uma família, eles são solitários, que vivem como irmãos reunidos em torno de Cristo presente entre eles. Solidão e vida em comunidade são equilibradas entre si: uma solidão que não é o isolamento ou a retirada em si mesmo, mas o desejo de Deus e da comunhão dos santos, uma vida comunitária que não é nem frouxo, nem buscando afetiva compensação, mas as necessidades de investigação ” amar, se você precisa para atravessar.

Na vida concreta do cartuxo há oportunidades de praticar a caridade fraterna, a partir de um simples sorriso, quando eles acontecem para atender um irmão com quem você não é capaz de quebrar o silêncio, até que outras vezes em que a caridade pode ser mais difícil, porque o verdadeiro amor muitas vezes exige a renúncia de si mesmo: “Se não estamos de acordo com o outro, saibamos ouvir e tentar entender o seu modo de ver …. certamente concordo de uma forma muito especial para nós, que morar na casa do Senhor, para testemunhar o amor que vem de Deus, recebendo irmãos amantes com quem compartilhamos nossas vidas e que se esforça para entender o coração ea mente de temperamentos e caracteres, embora diferente nosso “.

Dentro de uma solidão verdadeira admiração sabe a alegria de estar unidos aos irmãos com laços de afeto mútuo, para que você possa cantar com o salmista: “Quão bom e suave é que os irmãos vivam em união.”

O Prazer de ser Cartuxo.

É, há alguns anos, quando o filme “O Grande Silêncio” tinha deixado uma impressão profunda sobre a platéia. Este filme descreve a vida de um pouco dos Cartuxos, certamente só um pouco, por seu silêncio deixou-nos como espectadores, com muitas perguntas sem resposta.
Nós somos o Cartuxos, pouco conhecido, ou o que é pior, não se sabe a verdade. Diz-se sobre as coisas de nossa vida bizarras e absurdas que são completamente longe da realidade. E ainda esta vida solitária dos Cartuxos sempre atraiu almas escolhidas, que foram apreendidas pelo desejo de dedicar sua vida completamente a Deus. No silêncio e na solidão de um eremitério do mosteiro, escondido dos olhos do mundo
Muitos santos como Inácio de Loyola, João da Cruz e outros, sentiram o desejo de entrar para a Cartuxa. E o Charterhouse interessado ainda, até hoje, homens e mulheres do nosso tempo. Ela desperta o povo de juros às vezes incrédulo que sentem uma fé vida simples, que se concentra sobre o essencial e fundamental, aplicada.


Este relatório fornece respostas para perguntas como as colocadas por aspirantes em suas cartas, ou durante sua primeira visita a nossa avaliação vocacional. Nós esperamos que este diálogo muito simples para os jovens que gostam de conhecer a Cartuxa  profundamente, possa servir como um guia.


segunda-feira, 26 de maio de 2014

Totus Tuus! Sou todo vosso e tudo o que possuo é vosso!

João Paulo II foi um Papa todo de Maria, consagrado a Ela, que nutria uma profunda devoção a Santíssima Virgem desde a sua juventude. Esta devoção mariana marcou positivamente a vida e o pontificado do Papa Polaco. João Paulo II sempre recorreu com confiança a Virgem Maria, especialmente nos momentos mais difíceis e nas decisões mais importantes de sua vida. A partir de sua história, compreendemos qual a importância da devoção a Nossa Senhora para todos nós, para toda a Igreja. Em seu tempo de estudos em vista do sacerdócio, Karol Józef Wojtyla já era devoto de Nossa Senhora, mas tinha medo que esta tomasse o lugar de Jesus Cristo em sua vida. Foi então que o seminarista Karol teve contato com o “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, de São Luís Maria Grignion de Montfort, livro que disse ser “um texto clássico da espiritualidade mariana”1. No Tratado, Wojtyla encontrou a resposta para suas dúvidas a respeito do culto a Maria em relação ao culto a Jesus: no Tratado, “encontrei a resposta às minhas perplexidades […] Sob a orientação sábia de São Luís Maria compreendi que, quando se vive o mistério de Maria em Cristo, esse risco não subsiste”. A partir dessa experiência, toda a vida e o apostolado de Karol como Sacerdote, Bispo e Papa, foram marcados pela devoção amorosa e pela propagação do culto a Santíssima Virgem.
O brasão do Papa João Paulo expressa sua grande confiança na Virgem Maria e a sua consagração a ela. O escudo azul representa o firmamento dos céus e ainda o manto de Nossa Senhora. A letra “M”, junto à Cruz cor de ouro, simboliza a presença materna de Maria na vida de Jesus, desde a concepção virginal do Filho de Deus até o Seu sacrifício no Calvário. O lema do seu pontificado “Totus Tuus”, em latim, estampado no listel do Brasão, é o simbolo da consagração do Santo Padre a Nossa Senhora, que significa “Todo Teu” e corresponde a abreviação do princípio fundamental que norteou a sua vida e o seu pontificado: “Totus tuus ego sum et omnia mea tua sunt. Accipio Te in mea omnia. Praebe mihi cor tuum, Maria – Sou todo vosso e tudo o que possuo é vosso. Tomo-vos como toda a minha riqueza. Dai-me o vosso coração, ó Maria”.

Um fato marcou a vida do Papa Polaco e consolidou ainda mais a sua devoção e confiança na Virgem Mãe de Deus. No dia 13 de maio de 1981, o Papa João Paulo II sofreu um atentado, mas milagrosamente sobreviveu. Um dos disparos foi numa região vital (abdômen), mas não atingiu nenhum órgão vital. O turco Mehmet Ali Agca, autor do atentado, era um atirador experiente, Por isso, não compreendeu como não conseguiu matar o Papa depois de vários tiros disparados de tão perto (menos de sete metros). O Santo Padre atribui o fato a um milagre da Virgem Maria, que teria desviado o projétil disparado por Agca, para que este não lhe causasse a morte. Depois da sua recuperação, João Paulo II visitou o terrorista e o perdoou pelo atentado que quase lhe tirou a vida. O Pontífice também conseguiu convencer as autoridades a perdoar Agca, que foi extraditado para a Turquia, onde cumpriu pena por outro crime que havia cometido e foi libertado em 2010.
Assim, não é possível compreender a vida e o pontificado do Beato João Paulo II sem conhecer o seu amor, a sua devoção e a sua consagração total a Santíssima Virgem. Um ano depois do atentado, em 25 de maio de 1982, em Fátima, Portugal, o Santo Padre consagrou o mundo a Virgem Maria. Dois anos mais tarde, em 25 de março, na Solenidade da Anunciação, na presença de milhares de féis na Praça de São Pedro, em Roma, na Itália, João Paulo II repetiu o ato de consagração que fez em Fátima. Este ato de consagração foi diante da imagem da Capelinha das Aparições, levada de Fátima para o Vaticano especialmente para esta celebração memorável. Diante do grande testemunho de amor, devoção e confiança filial do Santo Padre a Virgem Mãe de Deus, consagremos também nossa vida, tudo que temos e somos, a Nossa Senhora: Totus Tuus! Sou todo vosso e tudo o que possuo é vosso!

Tomé, o incrédulo.

“Felizes os que não viram e creram” (João 20.29)


O santo padroeiro desta era de dúvida é o apóstolo Tomé. Nós o chamamos solidariamente, quase carinhosamente, de “Tomé, o Incrédulo”. Consideremos a sua peregrinação.
  1. Tomé, o ausente. No dia de Páscoa, ao fim da tarde, por uma razão qualquer, Tomé estava ausente e por isso perdeu a bênção de ver o Senhor ressuscitado. Ser frequentador irregular da igreja é um risco calculado. Porém, no domingo seguinte ele estava de volta ao seu
    lugar e recebeu a bênção que perdera no primeiro domingo!
  2. Tomé, o cético. Quando os outros discípulos disseram a Tomé que tinham visto o Senhor, ele deveria ter acreditado neles. Na verdade, Jesus reprovou Tomé e abençoou aqueles que creram sem ter visto. Passamos a crer em algo de duas maneiras principais. A primeira é por meio de nossa própria investigação empírica; a segunda é por aceitarmos o depoimento de testemunhas confiáveis. Assim, quando os outros discípulos disseram: “Vimos o Senhor” (v. 25), Tomé deveria ter crido neles, uma vez que sabia que eram testemunhas honestas e sóbrias. Se todas as pessoas hoje insistissem em ver e tocar o Senhor ressurreto, não haveria crentes. Ao contrário, milhões têm abraçado a fé com base no testemunho daqueles que o viram e tocaram. A razoabilidade da fé depende da credibilidade das testemunhas.
  3. Tomé, o crente. Tomé não apenas creu, como adorou, dizendo: ”Meu Senhor e meu Deus” (v. 28). A tradição acrescenta que mais tarde ele foi para a Pérsia e para a Índia como missionário. Cristãos indianos afirmam que ele plantou a igreja em Kerala e foi martirizado em Madras.
O fundamento da fé cristã ainda é o testemunho ocular dos apóstolos. Cremos em Jesus Cristo hoje não porque o vimos, mas porque eles viram. Daí a importância vital do Novo Testamento, que contém o testemunho dos apóstolos. Eles nos dizem por escrito aquilo que primeiro comunicaram verbalmente a Tomé: “Vimos o Senhor”.

Para saber mais: João 20.24-29

domingo, 25 de maio de 2014

Carta de São Bruno a Raul.


Ao venerável senhor Raúl, preboste de Remos, envia Bruno suas saudações, com um espírito de caridade muito puro.
Brilha em ti a fidelidade a uma antiga e inquebrantável amizade, tanto mais admirável e digna de elogios quanto mais rara é encontrá-la entre os homens. Apesar da distância e do tempo que separaram nossos corpos, jamais teu afeto se separou de teu amigo. Atesta-o a extrema amabilidade de tuas cartas em que me repetes o entranhável de tua amizade, os numerosos favores que me prestaste a mim e ao irmão Bernardo por minha causa, e outros muitos atendimentos. Meu agradecimento não está, por verdadeiro, à altura do que tu mereces, mas brota da fonte límpida do amor, em pagamento de tanta bondade.
Um viajante, bastante de fiar em outras ocasiões, saiu faz tempo daqui levando uma carta que a ti eu dirigia. Como não regressou, parece-me justo enviar a um dos nossos para que ponha ao corrente a tua caridade de minha existência. Por escrito não me seria possível explicá-lo extensamente; de viva voz, ele o fará com todo detalhe.
Saiba tua dignidade -e sem dúvida não te será indiferente- que a saúde de meu corpo é boa (oxalá o fosse também a da alma), e que o concernente aos assuntos exteriores vai tudo bem. Mas, em verdade, estou esperando com insistente oração, um gesto da divina misericórdia que sane minhas misérias interiores e preencha o meu anseio.
Estou em Calábria com outros irmãos, homens religiosos, alguns muito cultos, que montam fielmente uma guarda santa, esperando o regresso de seu Senhor para abrir-lhe as portas assim que chegue. Vivo num deserto, afastado de povoado por todas as partes. Como falar de modo adequado de seu encanto, de seu ar saudável e temperado, da vasta e agradável planície que se estende entre os morros, com seus verdes prados e seus pastos em flor? Quem se atreveria a descrever a perspectiva das colinas que se elevam suavemente por todos os lados , o retiro dos vales umbrosos onde abundam rios, ribeiros e mananciais? Sem contar as hortas de irrigação e os jardins naturais de variadas árvores.
Mas, por que deter-me nestas coisas? Outros são os prazeres do sábio, infinitamente mais agradáveis e úteis, porque divinos. No entanto, quando o rigor da disciplina regular e os exercícios espirituais fatigam o frágil espírito, este costuma encontrar bem-estar e descanso em tais deleites. Efetivamente, o arco sempre tenso, perde sua força e já não serve mais.
Quanta utilidade e gozo divinos trazem a solidão e silêncio do deserto a seus apaixonados, só o sabem aqueles que o saborearam.
Aqui os homens ardentes podem, sempre que o desejam, entrar e permanecer em seu interior; fazer germinar vigorosamente as virtudes e alimentar-se com fruição dos frutos do paraíso.
Aqui se adquire aquele olhar límpido cuja visão clara fere ao Esposo de amor, e cuja pureza permite ver a Deus.
Aqui nos urge um descanso diligente e nos ocupa uma calma atividade.
Aqui, pelo esforço do combate, concede Deus a seus atletas a esperada recompensa: a paz que o mundo ignora e o gozo no Espírito Santo.
Esta é a bela Raquel, tão formosa e preferida de Jacob, ainda que lhe desse menos filhos que Lia, mais fecunda, porém de olhos apagados. Efetivamente, os filhos da contemplação são menos numerosos que os da ação; mas José e Benjamim são preferidos por seu pai a todos os seus irmãos.
Esta é a melhor parte escolhida por Maria e que não lhe será tirada. Esta é a formosa Sunamita, única donzela eleita em todo o Israel, para estreitar em seu seio o ancião David e lhe dar calor.
E tu, meu irmão queridíssimo, oxalá a ames sobre todas as coisas, para que preso em seus abraços, ardas de amor divino! Se nascesse em tua alma o carinho por ela, cedo te enfastiaria essa sedutora e enganadora que é a glória do mundo; recusarias sem esforço as riquezas carregadas de ansiosas preocupações para o espírito, e te repugnariam os prazeres, tão nocivos ao corpo como à alma.
Tua prudência não te permite ignorar quem disse: "Quem ama o mundo e tudo o que há no mundo -isto é, o prazer da carne, os olhos insaciáveis e a ambição- não está nele o amor do Pai". E também: "Quem é amigo do mundo, converte-se em inimigo de Deus". Então, existe pior desordem, comparável manifestação de um espírito desviado e degenerado, atitude mais funesta e lamentável que levantar-se contra aquele cujo poder é irresistível ou cuja justiça se cumpre inexoravelmente, pretendendo declarar-lhe guerra? Somos talvez mais fortes do que Ele? Hoje sua paciente bondade convida-nos à penitência, mas quer isso dizer que não acabará por castigar a injúria que cometemos ao despreza-lo? Há algo mais contrário e mais oposto à razão, à justiça e à propria natureza, que amar mais a criatura que o Criador, que procurar os bens passageiros mais do que os eternos, as coisas da terra mais do que as do céu?
Que fazer então, caríssimo? Que fazer senão crer nos conselhos divinos, crer na Verdade que não pode enganar? Ela dá esta advertência a todos: "Vinde a mim todos os que andais carregados e sobrecarregados e eu vos aliviarei". E não é um ônus terrível e inútil estar atormentado por seus desejos, ver-se sem cessar vergado pelas preocupações e angústias, pelo temor e dor que engendram tais desejos? Há ônus mais preocupante do que aquele cujo peso, com a maior injustiça, precipita a alma do cume de sua sublime dignidade até o fundo do abismo? Foge, irmão meu, foge, pois, destas turvações e inquietudes e passa da tempestade deste mundo ao repouso e à segurança do porto.
Conhecido é de tua prudência o que a mesma Sabedoria nos diz: "Quem não renuncia a quanto possui, não pode ser meu discípulo ". Quão formoso, útil e agradável é freqüentar sua escola, sob a direção do Espírito Santo, para aprender a divina filosofia, única a fazer-nos verdadeiramente felizes, quem não o vê?
Para ti, pois, é da maior importância examinar tua situação com a máxima discrição e prudência. E se o amor de Deus não te atrai, se o atrativo de tais recompensas não te comove, deixa-te ao menos convencer pelo temor de um castigo inevitável.
Bem sabes que compromissos te prendem, e a quem. Poderoso e temível é aquele a quem fizeste voto de entregar-te como oferenda agradável a seus olhos: não tens direito a faltar-lhe à palavra dada, e nem sequer a ti te interessa fazê-lo, pois Ele não suporta que alguém o engane impunemente.
Lembra-te, meu amigo querido: achávamo-nos um dia os dois, junto com Fulco o Caolho, no jardinzinho contíguo à casa de Adam, onde então me hospedava. Os prazeres enganosos, as riquezas perecíveis deste mundo e as alegrias da glória sem termo, parece-me que ocuparam um momento a conversa. Então, inflamados de amor divino, prometemos e fizemos voto de abandonar sem tardança o século fugitivo, para ir em busca das realidades eternas e receber o hábito monástico. Tudo o tivéramos cumprido rapidamente se Fulco não tivesse marchado então a Roma; deixamos para executá-lo ao seu regresso. Atrasou-se, intervieram outros motivos; esfriaram-se os ânimos; o fervor se dissipou.
Que fazer então, caríssimo, senão livrar-te quanto antes de tal dívida, se não queres incorrer na cólera do Todo-poderoso e, por isso, em atrozes suplícios, como castigo dessa tão grave e prolongada falta de palavra? Que poderoso deste mundo deixaria impunemente a um de seus súditos defrauda-lo de um dom que lhe tivesse outorgado, sobretudo se o considera de valor excepcional? Portanto, presta atenção não às minhas palavras senão às do profeta, ou, melhor dito, às do Espírito Santo: "Fazei votos ao Senhor vosso Deus e cumpri-os todos os que a seu redor trazeis oferendas: Ele infunde terror, Ele deixa sem alento os príncipes, Ele infunde terror aos reis deste século". Ouves ao Senhor, ouves a teu Deus, ouves àquele que infunde terror, ouves ao que infunde terror aos reis da terra. Qual o motivo de tal insistência do Espírito Santo, senão a urgir-te que cumpras o voto que prometeste? Por que cumprir com pesar, o que não arcará nem perda nem diminuição de teus bens? Tu serás quem achará as máximas vantagens e não aquele a quem entregues o que lhe é devido.
Não te retenham, pois, as riquezas enganosas incapazes de remediar a miséria, nem o brilho do cargo de preboste que não pode exercer-se sem pôr a alma em grave perigo.
Encontras-te agora constituído administrador dos bens alheios e não seu proprietário. Se os empregas para teu uso pessoal -não te irritem minhas palavras- fazes algo tão odioso como injusto. Se o luxo e o fausto te atraem e manténs um grande modelo de vida, não te verás obrigado a suprir a escassez de bens adquiridos honradamente, encontrando o modo de tirar a uns o que ofereças a outros? E isto não é fazer o bem nem ser generoso, pois não há nada generoso se não é também justo.
Gostaria que te convencesses ainda de outra coisa. O Senhor Arcebispo põe grande confiança em teus conselhos e se apóia de bom grado neles. É fácil dar conselhos, ainda que nem todos sejam justos ou úteis, e a idéia dos serviços que lhe prestas não deve impedir-te de dar a Deus o amor que lhe deves. Esse amor, quanto mais justo é, tanto é mais útil.
Sim: há algo mais justo e mais útil, ou melhor dito, há algo tão profundamente arraigado e tão plenamente adaptado à natureza humana como amar o bem? E há outro ser, além de Deus, cuja bondade possa comparar-se à sua? Que digo: há outro bem fora de Deus só?
Por isto, ante esse bem cujo incomparável fulgor, esplendor e formosura se pressentem, a alma santa se abrasa no fogo do amor e exclama: "Com todo meu ser -exclama- tenho sede do Deus forte, do Deus vivo; quando irei, pois, ver a face de Deus?"
Oxalá, irmão, não desdenhes esta amigável recomendação! Oxalá não faças ouvidos surdos às palavras do Espírito Santo! Oxalá, caríssimo, satisfaças meu desejo e minha longa espera! Cessarão em minha alma o tormento das inquietudes, preocupações e temores que sinto por ti. Pois se te ocorresse -Deus te livre- deixar esta vida antes de cumprir teu voto, me deixarias entregue a uma contínua tristeza, sem o consolo de esperança alguma, trespassado de dor.
Portanto, quisera que te convencesses com minhas insistências: com motivo, por exemplo de uma peregrinação a São Nicolau, tem a condescendência de vir ver-me. Verás aquele que te ama com um amor sem igual. Poderemos conversar de viva voz de nossos comuns interesses. Confio no Senhor que não te pesará enfrentar os cansaços de tal viagem.
Ultrapassei os limites comuns de uma carta: não podendo ter-te a meu lado, permaneci ao menos muito tempo contigo ao falar-te.
Guarda-te de todo o mal, meu irmão, vela por tua saúde e não esqueças meu conselho. Tal é meu mais ardente desejo.
Suplico-te que me envies a vida de São Remígio, já que é impossível encontrá-la por estes contornos.

Adeus.