Discípulo - discipulado
“Que ninguém se esquive aos esforços das boas
obras, alegando-se incapaz de executar essas ações que salvam a alma,
pois Deus não ordena aos seus servos nada que seja impossível.
Ele nos deu o exemplo de seu amor e de sua bondade divinos, ricos e
generosamente dispensados a nós e concede que cada um, conforme a sua vontade,
faça o bem que pode. Nenhum dos que desejam ardentemente ser salvos será
frustrado. “Quem der”, diz o Senhor”ainda que seja um copo de água fresca a um
dos meus, por ser meu discípulo, em verdade eu vos digo, não perderá a sua
recompensa”(Mt 10,42).

[Note-se que este texto insiste
na ação do homem, que acolhe o que foi ordenado pelo Senhor, isto é, os seus
mandamentos, como “boas obras”, que tem o poder de “salvar a alma”. Este é o
bem que cada um deve fazer: imitá-lo. Para ser salvo, é preciso somente por em
prática um seu mandamento, ainda que tão pequeno, como o de “dar um copo d’água
fresca. Por esta ação, que é obediência a um mandamento de Cristo, e pelo seu
imenso amor, Ele se faz presente na pessoa a quem acolhemos. E o “salário da
obediência”, isto é: a benção prometida, o dom da vida divina, também começará
a realizar-se, no mesmo momento].
Mt 10, 37-42:
Fidelidade total na sequela de Cristo ocasiona dificuldades e perseguições.
Aceitar o discipulado cristão, sem condições e com todas as implicações que
traz consigo, é tomar a cruz sobre os ombros. Discípulos de um homem que morreu
na cruz. Por isso o dito de Jesus várias vezes repetido: v.39 quem procura
conservar a sua vida, vai perde-la. E quem perde a sua vida por causa de mim,
vai encontra-la. Por isso a identificação com Cristo, ocasionando o
“sacramento” da hospitalidade v.41. !Quem vos recebe a mim recebe e aquele que
me enviou. Quem recebe um profeta .... quem der um copo d´agua a um desses...

“Soa o chamado, e imediatamente
segue o ato obediente daquele que fora chamado. A resposta do discípulo não é
uma confissão oral da fé em Jesus, mas sim um ato de obediência. Como é
possível essa seqüência imediata de chamado e obediência? Para a razão natural,
isso é chocante, e ela se esforça para separar estes elementos tão intimamente
ligados; é preciso interpolar, explicitar qualquer coisa, seja como for, há que
se encontrar uma intermediação psicológica, histórica. ..O texto porém,
mantém-se teimosamente mudo acerca deste ponto, dando toda a ênfase à seqüência
imediata de chamado e ação. Não lhe interessavam razões psicológicas para
explicar as decisões piedosas de um homem. Por que não? Porque para esta
seqüência de chamado e ação só existe uma razão válida: Jesus Cristo. É ele
quem chama e por isso o publicano o segue. ..O fato de Jesus ser o Cristo
dá-lhe todo o poder para chamar e exigir obediência à sua palavra. Jesus chama
ao discipulado (seguimento) não como ensinador (professor) e exemplo, mas na
sua qualidade de Cristo, Filho de Deus.
“O chamado ao discipulado é,
portanto, comprometimento exclusivo com a pessoa de Jesus Cristo, a subversão
de todos os legalismos, mediante a graça daquele que chama. È chamado da graça,
mandamento gracioso. Fica além do antagonismo de Lei e Evangelho. Cristo chama;
o discípulo segue; isso é graça e mandamento num só. “E andarei com largueza,
pois me empenho pelos teus preceitos” (Sl 118,45).
Discipulado é comprometimento com
Cristo; por existir Cristo, tem que haver discipulado. Uma concepção de Cristo,
um sistema doutrinário, um conhecimento religioso geral de graça ou de perdão,
não implicam necessariamente no discipulado; na realidade, excluem-no, são-lhe
hostis. Com a idéia pode-se ter uma relação de conhecimento, de admiração -
talvez até mesmo de realização - mas nunca a relação de discipulado pessoal e
obediente. Cristianismo sem Jesus Cristo vivo, permanece necessariamente um
cristianismo sem Jesus Cristo; é uma idéia, um mito. Um cristianismo no qual só
existe Deus Pai, mas não existe Cristo como Filho vivo, exclui o discipulado.
Somente por o Filho de Deus ter sido feito homem, por ser Mediador, é que o
discipulado constitui o relacionamento correto com ele. O discipulado está
relacionado com o Mediador, e, onde quer que se fale corretamente do
discipulado, aí se fala do Mediador, Jesus Cristo, Filho de Deus. Somente
O discipulado sem Jesus Cristo é
a escolha pessoal de um caminho talvez ideal, um caminho, quem sabe, de martírio,
mas não encerra promessa; Jesus o repudiará.
“Ser discípulo significa dar
determinados passos. Logo o primeiro passo que segue ao chamado, separa o
discípulo da sua existência anterior. Assim o chamado ao discipulado cria
imediatamente uma nova situação. Permanecer na situação antiga e ser discípulo
é impossível. A princípio isso era bem evidente. O publicano teve que abandonar
a coletoria; Pedro teve que largar as redes, para seguir a Jesus. Segundo o
nosso entendimento haveria outras soluções: Jesus poderia ter proporcionado ao
publicano um novo conhecimento de Deus e permitir que ele continuasse no seu
antigo lugar. Isso seria perfeitamente posível se Jesus não fosse o Filho de
Deus feito homem. Como, porém, Jesus é o Cristo, havia que se tornar claro que
sua mensagem não é uma doutrina, mas nova criação da existência. Tratava-se de
caminhar realmente com Jesus. Aquele que era chamado compreendia que, para ele,
só havia uma possibilidade de fé em Jesus, a saber, abandonar tudo e ir com o filho
de Deus feito homem”.
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