Cantos Gregorianos - Salmos

sábado, 31 de maio de 2014

Cartuxos (um oásis no meio do deserto) VI

Há algum tempo atrás numa superfície comercial aqui na ilha, cruzei-me com um irmão romeiro, que me apelidou de irmão cartuxo. Confesso que pequei um pouco, por ter levado aquela observação como um elogio, tendo em conta o sentimento que nutro por essa ordem religiosa. Na verdade e parafraseando São João Batista , se ele não se sentia digno de Lhe desatar a correia das sandálias 1, que direi eu sobre eles, perante os quais, mais do ser um eterno pecador, falta-me a simplicidade e a humildade que eles possuem, entre outras atitudes essências e fundamentais como Cristão.  Depois de outras palavras trocadas com o irmão romeiro, este terminou o seu raciocínio dizendo que “as ordens contemplativas são 
“ o  p u l m ã o , a s  r a í z e s  e  a s  f u n d a ç õ e s  d a  I g r e j a ". Um raciocínio certo e verdadeiro. Depois de ter utilizado as primícias descritas no Scala Claustralium 2, isto é, depois da leitura cuidada, a meditação possível sobre estas palavras, oração ao Pai para que me iluminasse e alguma contemplação , dentro dos meus parcos conhecimentos, deparei-me com imagens profundas e ricas (dentro do espírito e vivência das ordens contemplativas), as quais passo a explicar: - Qualquer uma das três palavras refere-se a existências não visíveis aos olhos dos comuns mortais. Todas estas existências encontram-se no interior de algo, seja no corpo humano, debaixo da terra ou por baixo das paredes que sentimos, tocamos ou vemos - Depois da imagem acima descrita, deparei-me com mais uma. Apesar de não serem visíveis, todas elas são o fundamental para a existência do que suportam. O ser humano não vive sem os pulmões, porque sem eles não respirava, assim a sua existência estaria em causa. As árvores, por muito belas, frondosas, com ou sem flores ou frutos e por muito altas que possam ser, não existiriam se não tivessem raízes. As igrejas, por muito arrebatadores que possam ser, por muitos milagres que tenham presenciado e por muitos crentes fervorosos de fé em oração que possam conter, não existiriam sem fundações. - Uma terceira imagem ocorreu-me há dias. Talvez mais suscetível de discussão fraterna, talvez uma imagem exacerbada de um coração impuro e alma pecaminosa, mas sempre no intuito de não me afastar de Deus, tendo Maria como mediadora. “ Separados de todos, estando unidos a todos já que é em nome de todos que se mantém na presença do Deus vivo”3 oram incessantemente por nós. Assim como os pulmões transformam o dióxido de carbono em oxigénio, também as suas orações seguramente transformarão as nossas ações manchadas de pecados em virtudes. No que respeita às raízes, são elas que dão a força, o vigor e a energia às árvores. São também elas que levam os elementos vitais ao corpo que as suporta e que sem elas não seriam nada, sem elas também não conseguiam suster-se de pé e apontar-nos o caminho para o Altíssimo, tal como aqueles e aquelas que, sobretudo através do seu silêncio e solidão fecundos, unem a sua alma ao Verbo de Deus, a esposa ao Esposo, a terra ao céu, o humano ao divino 4, por Cristo, que é o Caminho, a Verdade e a Vida 5. As fundações da Igreja, mais do que pedras, somos todos nós as pedras vivas 6 da Igreja, mas mais do que nós, a vida contemplativa é o combustível para alimentar e revigorar os membros do imenso corpo que é Cristo, muitas vezes cansados e abatidos, restituindo-lhes a vitalidade e a frescura que precisam para continuarem a edificar 7 o Reino de Deus no mundo. Quase a terminar sinto que todas as ordens contemplativas são como pedra angular 8 e todas elas nesta sociedade em que vivemos e estão inseridas, cada vez mais são tidas como ultrapassadas, cada vez mais rejeitadas 9.

por: Victor Henriques 

Nenhum comentário:

Postar um comentário