Retirar-se para o deserto para
passar ali a inteira existência é uma decisão que só pode tomar-se quando no
coração arde a íntima certeza, mais ou menos bem formulada, de que no seio da
solidão se esconde um AMOR incomparável que não pode ser igualado por nenhum
outro amor.
A solidão cartusiana não pode
corresponder a uma fuga ou confundir-se com esta, senão que é a resposta a esse
Amor, tão grande, que tende a fazer-se absorvente até ocupar a inteira
existência.
A vocação cartusiana não é
"um circuito fechado com Deus". Ao chamar-nos ao deserto Deus pensava
em sua Igreja e em todos os homens de boa vontade, e a nossa resposta a damos
enquanto membros do Corpo de Cristo e como representantes da inteira família
humana. Desejamos ser o coração adorador da Igreja e o coração amante da
humanidade. Por isso, dia e noite, desde nossa solidão, elevamos ao céu o
louvor a Deus e em nome de todos apresentamos a Deus o grito de nossos irmãos
os homens.
Abraçar a vida solitária na
Cartuxa não supõe separar-se da família humana, senão que, separadas de todos,
permanecemos unidas a todos, e em nome de todos estamos em presença do Deus
vivo. Em nosso silêncio e solidão arrastamos a todos os que procuram a Deus e a
todos os que Deus procura: nada escapa à influência da oração... No Corpo
místico de Cristo cumprimos a missão de artérias que, silenciosas e escondidas,
transmitem incessantemente o sangue vivificante aos demais membros.
Ainda que não entre diretamente
em nossa vocação ser testemunhas ante o mundo, nossa mesma existência é, em
certo sentido, um verdadeiro depoimento. Ao orientar-nos para aquele que É,
somos em nossa sociedade como testemunhas de Deus, de sua existência, de sua
presença no meio dos homens. Nossa vida mesma tenta expressar que Deus pode
conquistar completamente um coração humano e liberá-lo dos condicionamentos da
sociedade de consumo, e assim somos, em certo modo, sinais da existência dos
bens eternos.
Não estará fora de lugar
assinalar que a existência de uma monja cartuxa é uma experiência de alegria
divina. Não necessariamente uma alegria que se faz exterior, senão a que brota
espontaneamente ante a certeza de saber que o Amor de Deus está realmente
presente em nossa vida, alegria ante a certeza de saber que a nossa é uma
existência bem empregada, pois une num mesmo abraço a Deus e a todos os irmãos.
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