É um filme sem actores, falas,
luzes, efeitos especiais ou banda sonora, no entanto, com tudo para ser um dos
melhores que vi até hoje. Refiro-me ao filme que dá pelo nome de “ O G r a n d
e S i l ê n c i o ”, da autoria do alemão Philip Groning sobre o quotidiano dos
monges de um mosteiro Cartusiano, mais precisamente da casa-mãe, a G r a n d e
C h a r t r e u s e , nos Alpes franceses, fundada por São Bruno de Colónia
(103-1101), em 1084 (séc. XI). Apesar do seu nome “sugestivo” é um filme com
quase 3 horas, mas com um silêncio que nos fala ao coração. São quase 3 horas
absorventes e emocionantes onde, sem nos apercebermos, mergulhamos num mundo
tão misterioso e frequentemente tão silencioso como o lado não visível da Lua.
Contudo, para entrarmos neste filme devemos agir como quem se recolhe em
oração. As imagens, essas conduzem-nos a uma misteriosa mas profícua
peregrinação interior. Tal como o tempo de Deus é diferente do nosso, também a
autorização para a realização deste filme demorou cerca de 17 anos a ser
concedida, pelo prior-geral da Ordem, aliás, estes monges também não vivem de
acordo com o nosso senso de tempo. Atrevo- me a dizer que a paciência de
Groning em relação a este projecto teve algo de divino, como se o tempo certo
para o realizar tenha sido “aquele” e não “antes”. “Susto. Surpresa. Choque.”
Foi assim que o Pe. Antão López, da Cartuxa de Évora, começou por falar deste
filme, adiantando que “o filme retrata com fidelidade a existência cartusiana,
na sua
liberdade de mil coisas
supérfluas, para vivermos o essencial que é Deus.” Trata-se de um filme sobre a
presença do absoluto e a vida de homens que dedicam a sua existência a
Deus. O silêncio, ali, não é um silêncio
absoluto. A bem da verdade, o filme está cheio de sons. O som de uma gaveta que
é aberta, uma tesoura que rasga um tecido de pano, um sino que toca, das
orações, do vento, da lenha a crepitar ou dos risos em momentos de brincadeira.
Então, se não há silêncio, por que se chama “ O Grande Silêncio ”? Penso que
será porque há uma absoluta surdez relativamente a tudo o que são os “nossos”
sons ou melhor dizendo, os “nossos” ruídos. Termino com uma passagem, das
poucas onde “ O Grande Silêncio ” é interrompido por algumas palavras (por
sinal de uma profundidade inalcançável) e que ficaram-me gravadas com uma dos
maiores louvores que se podem fazer a Deus Nosso Senhor, um amor incondicional
ao Pai. Refiro-me a uma passagem, na qual um monge mais idoso quebra o silêncio
para Lhe agradecer por tê- lo tornado cego. Depois termina dizendo: “ T e n h o
a c e r t e z a q u e D e u s o f e z p a r a o b e m d a m i n h a a l m a
”.
Este filme ganhou os Prémios de
Melhor Documentário no Festival de Sundance e nos Prémios Europeus do Cinema.
por: Victor Henriques
por: Victor Henriques
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