Cantos Gregorianos - Salmos

sábado, 31 de maio de 2014

Cartuxos (um oásis no meio do deserto) II

É um filme sem actores, falas, luzes, efeitos especiais ou banda sonora, no entanto, com tudo para ser um dos melhores que vi até hoje. Refiro-me ao filme que dá pelo nome de “ O G r a n d e S i l ê n c i o ”, da autoria do alemão Philip Groning sobre o quotidiano dos monges de um mosteiro Cartusiano, mais precisamente da casa-mãe, a G r a n d e C h a r t r e u s e , nos Alpes franceses, fundada por São Bruno de Colónia (103-1101), em 1084 (séc. XI). Apesar do seu nome “sugestivo” é um filme com quase 3 horas, mas com um silêncio que nos fala ao coração. São quase 3 horas absorventes e emocionantes onde, sem nos apercebermos, mergulhamos num mundo tão misterioso e frequentemente tão silencioso como o lado não visível da Lua. Contudo, para entrarmos neste filme devemos agir como quem se recolhe em oração. As imagens, essas conduzem-nos a uma misteriosa mas profícua peregrinação interior. Tal como o tempo de Deus é diferente do nosso, também a autorização para a realização deste filme demorou cerca de 17 anos a ser concedida, pelo prior-geral da Ordem, aliás, estes monges também não vivem de acordo com o nosso senso de tempo. Atrevo- me a dizer que a paciência de Groning em relação a este projecto teve algo de divino, como se o tempo certo para o realizar tenha sido “aquele” e não “antes”. “Susto. Surpresa. Choque.” Foi assim que o Pe. Antão López, da Cartuxa de Évora, começou por falar deste filme, adiantando que “o filme retrata com fidelidade a existência cartusiana, na sua
liberdade de mil coisas supérfluas, para vivermos o essencial que é Deus.” Trata-se de um filme sobre a presença do absoluto e a vida de homens que dedicam a sua existência a Deus.  O silêncio, ali, não é um silêncio absoluto. A bem da verdade, o filme está cheio de sons. O som de uma gaveta que é aberta, uma tesoura que rasga um tecido de pano, um sino que toca, das orações, do vento, da lenha a crepitar ou dos risos em momentos de brincadeira. Então, se não há silêncio, por que se chama “ O Grande Silêncio ”? Penso que será porque há uma absoluta surdez relativamente a tudo o que são os “nossos” sons ou melhor dizendo, os “nossos” ruídos. Termino com uma passagem, das poucas onde “ O Grande Silêncio ” é interrompido por algumas palavras (por sinal de uma profundidade inalcançável) e que ficaram-me gravadas com uma dos maiores louvores que se podem fazer a Deus Nosso Senhor, um amor incondicional ao Pai. Refiro-me a uma passagem, na qual um monge mais idoso quebra o silêncio para Lhe agradecer por tê- lo tornado cego. Depois termina dizendo: “ T e n h o a c e r t e z a q u e D e u s o f e z p a r a o b e m d a m i n h a a l m a ”. 

Este filme ganhou os Prémios de Melhor Documentário no Festival de Sundance e nos Prémios Europeus do Cinema.

por: Victor Henriques 

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