A VOCAÇÃO DO MONGE é e não é mais do que a vocação do batizado. Mas é a vocação do batizado que atinge, por assim dizer, a sua máxima urgência. Quem se revestiu de Cristo, ouviu o apelo para buscar a Deus. O monge é aquele para quem este apelo se tornou tão insistente que ele não pode pensar em responder- lhe amanhã, precisa responder-lhe hoje mesmo. E ele não espera que passe a figura deste mundo para ver Aquele que ainda está no além. Apresenta-se diante DELE, abandonando tudo deste mundo para O encontrar desde agora. Em toda a vocação cristã, há o gérmen de uma vocação monástica. Pode desenvolver-se mais ou menos; o seu desenvolvimento pode revestir-se de muitas formas diferentes. Mas este gérmen não poderia ser abafado sem que sucumbisse com ele o próprio gérmen da vida em Jesus Cristo. Não se pode, com efeito, ser filho de Deus sem ouvir no mais profundo do coração a voz que nos grita: “Vem para o Pai” – e sem estar pronto a responder- lhe por um sacrifício total.
Não há dúvida que o esforço cristão deve tender a uma consagração universal de nós mesmos e do mundo, e florescer numa alegria inquebrantável. Mas a cruz é precisamente a via que conduz a este termo, e não há outro caminho... Uma palavra rompeu o silêncio e despertou-nos da melancólica solidão em que a alma adormecera perdida no meio das coisas. Estas palavras pedem uma resposta, resposta que é convite a entendê-la de novo, a entendê-la melhor, a não cessar de ouvir para a escutar e para lhe responder continuamente. Pensemos no pequeno Samuel adormecido no templo. Ressoa uma voz, uma voz que lhe é dirigida. Não lhe diz senão o seu nome: “Samuel” - E a criança exclama: “Fala Senhor, o Teu servo escuta”. Pensemos em Santo Antão, “o Pai dos monges”. Está na Igreja e lê-se o Evangelho. Ouve a palavra de Cristo: “Se alguém quer ser meu discípulo, que renuncie a si mesmo, que tome a sua cruz e que me siga...”. Compreende que não se trata de uma palavra no ar, e que a ele foi dirigida a palavra. Imediatamente, responde ao apelo e faz o que acaba de ouvir. A vocação monástica é isto, ou não é nada. Uma palavra divina, a palavra que anuncia o Evangelho, enterrou-se um dia no nosso coração. No mesmo instante, compreendemos que era a nós que ela chamava. E partimos em busca d’Aquele que chamava, chamando-O por sua vez, chamando-O com um apelo em que todo o nosso coração e toda a nossa vida, se incorporavam à nossa voz.
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