Cantos Gregorianos - Salmos

quinta-feira, 8 de maio de 2014

A Cartuxa, exemplo de Ascese, Mística e Radicalidade!

Muitas vezes na Igreja (nós), recebemos de Deus, algumas graças e quem sabe até a nossa conversão, se deu pelos méritos de homens e mulheres, que no silêncio do claustro, “oferecendo com a mão direita sem que a esquerda saiba..” suas orações e sacrifícios pelo mundo e conversão dos pecadores...

A origem

Um chamado : São Bruno
« Para louvor da glória de Deus, Cristo, palavra do Pai por mediação do Espírito Santo, elegeu desde o princípio alguns homens, a quem levou à solidão para uní-los a si em íntimo amor. Seguindo esta vocação, o Maestro Bruno entrou com seis colegas no deserto de Cartuxa e se instalou ali. » (Estatutos I.1)

Quem era Bruno ?
Nasceu em Colônia por volta do ano de 1030 e chegou, sendo ainda jovem, a estudar na escola catedralícia de Reins. Adquirido o grau de doutor e nomeado Cônego do Capítulo da catedral, foi designado em 1056 escolaster, isto é, Reitor da Universidade. Foi um dos maestros mais renomeados de seu tempo : « …um homem prudente, de palavra profunda ».
Bruno encontra-se cada vez menos a vontade numa cidade onde não escasseiam os motivos de escândalo por parte do alto clero e inclusive mesmo do Arcebispo. Depois de ter lutado com sucesso contra estes problemas, Bruno experimenta o desejo de uma vida mais entregue exclusivamente a Deus..
Depois de uma experiência de vida solitária de breve duração, chegou à região de Grenoble onde o bispo, o futuro São Hugo, ofereceu-lhe um lugar solitário nas montanhas de sua diocese. No mês de junho de 1084 o mesmo bispo conduziu Bruno e seus seis colegas ao deserto do maciço montanhoso de Chartreuse (Cartuxa) que dará seu nome à Ordem. Ali constroem seu eremitério formado com algumas casinhas de madeira que se abrem a uma galeria, que permite aceder sem sofrer demasiado pela intempérie do tempo aos lugares de vida comunitária : A igreja, o refeitório e o Capítulo.
Depois de seis anos de aprazível vida solitária, Bruno foi chamado pelo Papa Urbano II (que fora seu aluno em seu tempo de maestro) ao serviço da Sede Apostólica. Crendo sua novel comunidade que não poderia continuar sem ele, sua Comunidade pensou primeiramente em separar-se, mas finalmente se deixou convencer por continuar a vida na qual tinham sido formados. Conselheiro do Papa, Bruno não se sentia à vontade na Corte Pontifícia. Ele permaneceu somente uns meses em Roma. Com a aprovação do Papa fundou um novo eremitério nos bosques da Calábria, ao sul da Itália, com alguns novos colegas. Ali faleceu a seis de outubro do ano de 1101.
Um depoimento de um de seus irmãos da Calábria :
« Por muitos motivos merece Bruno ser louvado, mas sobretudo por um: Foi um homem de caráter sempre igual (estável). De rosto sempre alegre, e a palavra modesta. Juntava à autoridade dum pai a ternura de uma mãe. Ante ninguém fez ostentação de grandeza, senão que se mostrou sempre manso como um cordeiro. Foi nesta vida, o verdadeiro israelita. »

O fim : a contemplação
« …descobrir a imensidão do amor. » (Estatutos 35.1)
O fim principal do caminho cartusiano é a CONTEMPLAÇÃO. Viver tão continuamente quanto seja possível à luz do amor de Deus para conosco, manifestado em Cristo, pelo Espírito Santo.

Isto supõe de nossa parte a pureza de coração, ou a caridade : « Ditosos os limpos de coração, porque eles verão a Deus. » (Mt 5, 8)

A tradição monástica chama a este fim a oração pura e contínua.
Os frutos da contemplação são: a liberdade, a paz, a alegria. O Bonitas! ¡Oh Bondade!, era a exclamação de alegria que brotava do coração de Bruno. Mas a unificação do coração e a entrada no repouso contemplativo supõem um longo caminho. Os nossos Estatutos o descrevem da maneira seguinte :
« Aquele que persevera firme na cela e por ela é formado, tende a que todo o conjunto de sua vida se unifique e converta numa constante oração. Mas não poderá entrar neste repouso sem ter-se exercitado no esforço de duro combate, já pelas austeridades nas que se mantém por familiaridade com a cruz, já pelas visitas do Senhor mediante as quais o prova como ouro no crisol. Assim, purificado pela paciência, consolado e robustecido pela assídua meditação das Escrituras, e introduzido no profundo de seu coração pela graça do Espírito, poderá já não só servir a Deus, senão também unir-se a Ele. » (Estatutos 3.2)


Portanto, toda a vida monástica consiste nesta marcha para o fundo do coração e todos os valores de nossa vida estão orientados para esse fim. Estes valores ajudam o monge a unificar a sua vida na caridade e a introduzi-lo no profundo de seu coração.
Falando com propriedade, este fim não nos distingue dos demais monges contemplativos (Cistercienses, Beneditinos…), mas é o caminho empreendido, cujas características essenciais são as seguintes :
  • a solidão
  • certa combinação de vida solitária e de vida comunitária
  • a liturgia cartusiana
A solidão

Compartilhamos alguns valores monásticos com outros monges contemplativos: a ascese (vigílias e jejuns), o silêncio, o trabalho, a pobreza, a castidade, a obediência, a escuta da Palavra, a oração, a humildade. Outros, são-nos próprios.
A primeira característica essencial da nossa vida é a vocação à solidão, à qual somos especialmente chamados. O monge Cartuxo procura a Deus na solidão.
« A nossa principal aplicação e propósito consistem em nos dedicar ao silêncio e à solidão da cela. Esta é a terra santa e o lugar onde o Senhor e o seu servo conversam frequentemente como dois amigos. É nela que muitas vezes a alma fiel se une ao Verbo de Deus, a esposa convive com o Esposo, as coisas da terra se ligam às do Céu, as humanas às divinas. » (Estatutos 4.1)

A solidão se vive a três níveis :
  1. a separação do mundo
  2. a guarda da cela
  3. a solidão interior, ou a solidão do coração
  1. A separação do mundo se leva a cabo pela clausura. Não saímos do mosteiro senão para um passeio semanal (espaciamento). Não recebemos visitas nem exercemos apostolado exterior algum. No mosteiro não temos rádio nem televisão. O Prior é quem recebe as notícias e transmite aos monges o que não devem ignorar. Assim se encontram reunidas as condições necessárias para que se desenvolva o silêncio interior que permite à alma permanecer atenta à presença de Deus.
  2. A Cela é uma moradia acondicionada para proporcionar ao Cartuxo a solidão tão completa quanto seja possível, assegurando-lhe o necessário para a vida. Cada cela consiste num pequeno apartamento de um ou dois pisos, rodeado de um pequeno jardim, onde o monge permanece em solidão a maior parte do dia durante toda a sua vida.
  3. No entanto, a clausura e a guarda da cela não asseguram mais do que uma solidão exterior. É o primeiro passo que favorece a solidão interior, ou a pureza do coração: manter seu coração afastado de quanto não é Deus ou não conduz a Deus. É a este nível que o Cartuxo se enfrenta com as veleidades da sua imaginação e as flutuações da sua sensibilidade. Enquanto o monge disputar com o seu 'eu', suas sensibilidades, seus pensamentos inúteis, seus desejos irreais, ainda não está centrado em Deus. É aqui que ele experimenta realmente a sua fragilidade e o poder do Espírito Santo e onde aprende pouco a pouco « …o costume da tranqüila escuta do coração, que deixe entrar a Deus por todas suas portas e sendas. » (Estatutos 4.2)
A liturgia cartusiana
Características da liturgia cartusiana
Desde sua chegada à Cartuxa, S. Bruno e seus colegas formaram uma liturgia particular adaptada a sua vocação eremítica e à dimensão reduzida de sua comunidade. Ao longo dos séculos, nossos pais trataram de conservar esta liturgia acomodada à nossa vida solitária e contemplativa.

Em comparação com a liturgia romana, o rito cartusiano se caracteriza por uma grande simplicidade e uma sobriedade a nível de formas exteriores que, além das expressões visíveis e sensíveis, favorecem a união da alma com Deus.

Alguns elementos da nossa liturgia :
  1. muitos tempos de silêncio
  2. a proibição de todo instrumento musical
  3. o canto gregoriano, que fomenta a interioridade
A celebração cotidiana da liturgia
A celebração do sacrifício eucarístico é o centro e o cume da vida comunitária. 
No coraçao da Igreja e do mundo
« Separados de todos, unimo-nos a todos, para, em nome de todos, permanecer na presença do Deus vivo. » (Estatutos 34.2)

O louvor

O Cartuxo não escolheu a solidão por si mesma, senão porque vê nela um excelente meio para ele, de chegar à mais íntima união com Deus e com todos os homens. É entrando na profundidade de seu coração que o Cartuxo chega a ser solitário, em Cristo, presente em todo o ser humano. Faz-se solitário por querer ser solidário. Os contemplativos estão no coração da Igreja. Cumprem uma função essencial da comunidade eclesial: a glorificação de Deus. O Cartuxo se retira ao deserto, antes de mais nada, para adorar a Deus, louva-lo, contempla-lo, deixar-se seduzir por Ele, entregar-se a Ele, em nome de todos os homens. A Igreja lhe encarregou-o de que, em nome de todos, seja uma alma de contínua oração.
A intercessão
Desde sempre a Igreja reconhece que os monges, entregues unicamente à contemplação, desempenham o ofício de intercessores. Como representantes de toda a criação, cada dia, em todos os ofícios litúrgicos e no momento da Eucaristia rezam pelos vivos e defuntos.

Testemunho


« Tendendo por nossa Profissão unicamente para Aquele que é, damos testemunho perante um mundo demasiado implicado nas coisas terrenas, de que fora dele não há outro Deus. Nossa vida manifesta que os bens celestiais estão presentes já neste mundo, prenuncia a ressurreição e antecipa de algum modo a renovação do mundo. » (Estatutos 34.3)
Para o solitário, ser portador de semelhante testemunho não o leva a cabo nem pela palavra, nem pelo contato pessoal. Unicamente só pela sua presença, o monge testemunha que Deus existe e que pode encher o coração do homem.

A penitência



O caminho ascético associa o Cartuxo à obra de Cristo, para a salvação do mundo :
« Pela penitência participamos na obra de salvação de Cristo o qual redimiu o mundo escravo do pecado, especialmente com sua oração ao Pai e sacrificando-se a Si mesmo. Por isto, os que pretendemos viver este aspecto cristão da missão de Cristo, ainda que não nos dediquemos a nenhuma ação externa, no entanto exercitamos o apostolado de uma maneira preeminente. » (Estatutos 34.4)









O Dia de um Monge Cartuxo.
Horário
Objet
Précisions
23h30
Levantar-se
Oração na cela
Esta Oração na cela, no centro da noite é um dos momentos mais ricos do dia.
0h15
Matinas seguidas das Laudes
Na igreja. Dependendo dos dias, estes ofícios duram entre duas e três horas.

Laudes da Santíssima Virgem
Na cela. A seguir, deitar-se sem demora.
6h30
Levantar-se
A hora é indicativa. Somente é preciso estar preparados para a hora de Prima às 7h00.
7h00
Prima - Angelus
O tempo que segue ao Angelus está consagrado à Oração ou à Lectio Divina (por exemplo: preparação das leituras da missa).
8h00
Missa Conventual
Na igreja.

Ação de graças
Lectio Divina
Lectio Divina é a leitura meditada da Bíblia. Também se pode dedicar este tempo à Oração.
10h00
Terça
A jornada está regulada, mais ou menos, pelos ofícios cada duas horas.

Estudo / trabalho manual
Não se faz trabalho manual antes de Terça. O tempo de trabalho manual pode ser dividido em dois, pela manhã e pela tarde, ou fazê-lo tudo seguido pela tarde.
12h00
Angelus
Sexta


Almoço - Recreação
A recreação é um tempo que não tem uma estrutura particular; pode-se ocupar pela leitura, o trabalho ou simplesmente estar ao sol, etc.
14h00
Noa


Trabalho manual (uma hora) - Estudo
O equilíbrio estudo-trabalho manual depende de cada um e deve ser tratado com o Padre Prior (ou o Mestre de noviços).
16h00
Vésperas da Santíssima Virgem

16h15
Vésperas
Na igreja.

Colação
Leitura - Oração
Aqui a leitura pode-se tirar dum livro espiritual ou da Palavra de Deus. A frugal refeição pode-se tomar em qualquer momento entre Vésperas e Completas.
18h45
Angelus - Completas

19h30
Deitar-se
(entre 19h30 e 20h00)

17 anos depois.....

O Grande Silêncio filme gravado dentro do mosteiro e lançado em fevereiro de 2005.
"O Grande Silêncio é o primeiro filme sobre a vida interior da Grande Chartreuse, casa-mãe da Ordem dos Cartuxos, uma meditação silenciosa sobre a vida monástica. Dezessete anos depois de ter pedido autorização para filmar no mosteiro, é dada autorização para entrar ao realizador, Gröning, que filmará a vida interior dos monges cartuxos. Sem música à excepção dos cânticos do mosteiro, sem entrevistas, nem comentários, ou artifícios. Evocam-se unicamente a passagem do tempo, das estações, os elementos repetidos incessantemente durante o dia ou as orações. Um filme sobre a presença do absoluto e a vida de homens que dedicam a sua existência a Deus. O filme ganhou os Prémios de Melhor Documentário no Festival de Sundance e nos Premios Europeus do Cinema.






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